A manhã, a chuva, as árvores molhadas,
O cheiro de madeira e folhas em decomposição,
O som da chuva,
O lugar quentinho,
O som de piano, Chopin ou Schumann...
O vento que sopra suavemente flamejando
O ramos das árvores,
Tudo isto me soa tão saudoso,
Boas recordações profundamente subjetivas,
Sempre que se repete,
Simplesmente exito, simplesmente sou...
Perco-me no vazio de nada pensar,
Sou só sentidos.
Sei, entrementes, que não são coisas raras na natureza,
Mas que fazem toda diferença em minha breve vida,
Porque amo a chuva,
Porque amo a manhã,
Porque amo a vida,
Porque a vida é uma eterna e incessante construção,
Como o quebrar das ondas na praia,
Como a correnteza do rio,
Incessante é a vida...
Enquanto cai a chuva vago...
E para onde vão as perspectivas de quem morre?
Sei lá...enquanto chove, agora, escrevo algo, que sei lá quem vai escrever...
No caso você que ler agora, visto que a leitura é algo sempre feita no presente momento,
talvez nem tenha cruzado os primeiros versos...
Que sentido terá o que escrevo, para onde mira meus pensamentos,
E o espelho de minha memória o que me mostra...
Vejo a chuva caindo no barro vermelho,
Vejo pedras escuras soltas,
Sob o cajueiro um monte de caju,
Junto a meu pai a descastanhar o caju e a castanha melados de nódoa e água
E o meu pensamento oco como agora.