Cada homem tem a sua arte que forja no desenrolar das horas e dos anos.
Meu tio Aldo que desfechou o próprio destino. Aprendeu a negociar e a trabalhar na roça por gosto e necessidade. Desde muito cedo, por ser o primogênito, teve que trabalhar para ajudar no sustento da família. Vem a minha mente, por que meus avós lhes batizaram com este nome Aldo. Um nome de origem alemã que significa velho. Imagino ainda no começo da década de 1930, quando minha avó Chica e meu avó Chico foram a cidade registrar o filho. A parte isto, meu tio não sei em que ano, iniciou uma jornada hercúlea de negociar. Saia do povoado do Porção e ia a cidade de Alexandria. Carregado de goma, todas as sextas saia no lombo de uma burra vermelha e seguia pelos caminhos longos, monótonos. Se ao menos soubesse os nomes das rochas, das plantas, dos relevos e das paisagens. Talvez não se entregasse tanto aos seus pensamentos e a monotonia, mas não que houvesse monotonia em tantas horas dispendiosas no lombo de um animal. Creio que havia amor, como há no seio humano, as coisas creadas pelo ser superior. Amor pelas paisagens, formas, cores, cheiros e revelar das coisas que surgiam e desapareciam em sua mente. As floradas rosas de jitiranas, o som dos riachos escorrendo, o som do casco nas rochas, a amplidão do mundo e a esperança de ganhar seu dinheiro honesto.
Aldo Batista, servira ao exército, era um homem muito sério, de voz grossa e forte. Era fácil saber quando estava lá em casa, de longe ouvia sua voz contando suas histórias. Será se tinha problemas de audição? Geralmente quem tem fala alto, ou queria ser entendido? Na juventude de meu pai fora não apenas irmão, mas um segundo pai. Tio Aldo, casou com a primogênita, Maria das Neves, de meus avós José e Sinhá. Foi por meio destes que meu pai Chico conheceu e casou com minha mãe Chica. A parte isto.
Como comecei minha fala, além de pequeno comerciante, Aldo trabalhou na roça. Sim, suas roças eram grandes e bem cuidadas. Não gostava de fazer serviço sujo, seus roçados eram zelados desde o plantio a colheita. Dava gosto de ver, mas pareciam grandes hortas. Com a força de seus braços, uma enxada que não precisava ser das melhores, campinava do nascer ao pôr do sol. Como quem ler uma texto clássico, com cautela e reflexão, assim ia capinando. Certamente, pensava na feira do fim de semana, no que faltava em casa, no zelo da família, no melhor para o povo. E assim ia construindo sua vida e seu destino.
Todos os anos cultivava uma roça, com habilidade, fazia suas feiras e dava dignidade a sua família.