Domingo,
A casa com paredes de taipa,
Só a sala com tijolo adobe,
E telhado com telhas velhas irregulares,
Abrigava a família de José Neves,
Ali habitava Sinhá, José e Lera,
O terreiro de solo alvo,
Estava todo varrido,
Arrastando as asas, com crista dilatada cantava o peru glugluglu.
Do lado de fora da porteira badalava o chocalho das vacas,
O cheiro de estrume aromatizava a paisagem sertaneja,
A janela da cozinha aberta,
A porta da cozinha aberta,
No fogão cozia o feijão,
O fogo laranja dançava,
Na panela o feijão com carne de boi borbulhava e soltava um gostoso aroma,
Que despertava fome na gente,
Uma melancia aberta,
Coalhada no alguidar da forquilha...
A luz iluminava o serrote,
As algarobas e pinheiras faziam sombra,
Na fachina as galinhas cocoricavam,
Vovó Zé, Mamãe, Migué e Vovô Sinhá a conversar,
Uma conversa que não entendia,
Preferia só olhar no oitão a escora da parede,
As paisagens plantas,
A serra,
Enquanto isso cantava no campo o tico-tico do campo,
Na pinheira cantava um golinha
E na gaiola o sabiá de vovô...
Que anos maravilhosos os anos 80,
Da minha infância, da velhice de meus avós,
Do eterno encontro da vida,
Das gerações se enlaçando e desenlaçando,
Feito a dança de Shiva,
Na destruição e construção...
E a consciência que tudo isso não passa de ilusão