quarta-feira, 31 de março de 2021

65. Relaxe

 Por vezes, amanheço indisposto. A razão não me impulsiona a agir. Até parece que o mundo é um pesar.

Embora não queira, até meus pensamentos são lentos e cansativos.

Nem todas as manhãs são maravilhosas quanto manhãs pós chuva no semiárido em que acordamos dispostos.

Dizem que pode ser o açúcar no sangue, acho essa hipótese plausível.

Colocar a culpa no açúcar.

O tema entendimento tem me interessado bastante ultimamente.

Talvez não seja possível filtrar ou peneirar deste texto algo palatável.

Espere!

Coloque ai no youtube "Divertimento pour cordes K 136" de Mozart.

Ouça um pouco!

Sentes algo?

Não.

Apois, eu sinto algo bom.

Sabe ouvindo eu  visualizo uma memória que adoro cultivar.

A paisagem é de Serrinha do Canto,

Entre os anos 80 e 2000, os meses são entre julho e setembro,

O ano foi ótimo. Choveu muito teve muito inverno.

A roça de milho já secou e papai dobrou cada um dos pés

E a fava faz pavio se enovelando nos pés de palha seca,

E o vento sopra a vontade,

Livre, solto...

Canta a siriri...

Da terra nasce um mato verde de cabeças brancas.

Volto ao agora, momento presente.

E a realidade dos fatos atormenta meu coração.

Calma Rubens!

Calma... Vinícius está dormindo no colo da mamãe.

Fez três meses.

E você ai tentando organizar as ideias.

Tentando ler Neruda e Pessoa,

E flertando com Kant e Hegel...

Já não basta a complexidade do mundo.

É isso...

Entendo você!

Quer por ordem neste caos para poder se sentir melhor.

Mas o mundo é tão multifacetado né.

Uma coisa de cada vez.

Relaxe...

Tudo vai está melhor mais tarde.

Só relaxe.

Madrugada

 Acordei de madrugada. Vinícius mudou nossos hábitos. Após amamentando, troquei sua fralda. Voltou, mamou novamente. Enquanto isso fiquei vendo as manchetes.

Não se vê uma notícia boa. Nenhuma sequer.

Volto a dormir e é tudo.

terça-feira, 30 de março de 2021

64. Siriri metafísico

 Uma siriri cantou,

Foi o que ouvi,

Cantou lá nas três ruas,

Lá nos pés de castanholas.

Siriri tem muito por aqui,

Tem muito no nordeste,

Lá para as bandas onde nasci,

Tinha muitas

Que ficavam pousadas nos fios de eletricidade.

Depois que a rede chegou,

Abandonaram os ramos dos cajueiros,

Agora só ficam na rede,

Na beira da estrada.

Contemplei muito a siriri enquanto a tarde caia,

Enquanto a vida passava,

Enquanto pensava como um dia sairia dali.

Era um sonho,

Hoje um sonho realizado,

E olhe!

Aqui estou pensando no lá.

Não estou vendo o siriri,

Mas ouvindo ele vocalizar.

Os tempos são outros,

Assim como as responsabilidades e os problemas.

A vida só muda de faces.

Já fui a tantos lugares,

Já morei também em outros lugares,

Vivi tantas coisas

E olhe a conclusão que chego é que são apenas

Acidentes...

Situações acidentais.

Situações acidentais que ocorrem enquanto os dias se passam,

Os meses e os anos...

Quando nos damos conta disso,

Às vezes já é tarde.

Um siriri, minha memória e o agora,

Amarrando um momento,

Que tão logo deixa de ser.

A vida muda de faces.

Não saber qual é a próxima face nos assusta.

Não dá para esperar feito semente pelo melhor momento para nascer.

A vida é contínua...

E continua até o fim.

Eu Rubens sou testemunha disso.

segunda-feira, 29 de março de 2021

63. Momentos intimos

 Quando estudava em Natal era mais fácil ir em casa. Sempre que podia voltava para casa. Papai nas manhãs de sábado me chamava para irmos a rua. A gente pegava a nossa moto azul, uma Honda que temos desde 1997, e partiamos para Martins. A moto até sabia o caminho. A parada era a figueira de seu Davi o famoso da bodega em frente ao colégio Alumínio Afonso. Lá estacionava e íamos a venda do profundo Antônio de Chiquim do Alive. Onde havia maravilhosos encontros dos amigos. Era Aluízio, Hélio de Chico Franco, Bolinha de tio Aldo, Marlene de Chiquim, Washignton, Antônio de Doquinha, Dadá Vicentin. Era uma festa de tanta lorota boa. Depois de tomado o café. A gente ia a venda de Heide Godin pra fazer uma feirinha. Arroz, açúcar, carne, café, produto de limpeza, tomates, bolachas e o meu abacaxi... Papai tinha o prazer de fazer um pequeno mimo. Provava sempre de uma ou duas uvas, no açougue depois de pedir a carne sempre dizia... Pese bem pesado. Pedia a Soró uma caixa. Depois Ceição fazia a conta. Papai pagava e a gente voltava pra casa. Esse foi nosso gostoso hábito por muito tempo. Era um momento só nosso. As vezes a gente não percebe que a grandiosidade dos momentos está na simplicidade do ser e do existir. Fabulosos momentos que pude viver com o papai.

Sabiá

 Sabiá ah sabiá.

Se te ouço chiando já sei o que é que está acontecendo.

É o gavião perturbando.

É o gavião xeretando.

Xô gavião.

Longe cantando está outro sabiá.

Sabe, sabiá tem em todo lugar que já fui no Brasil.

Lá em Serrinha do Canto, onde nasci.

Nas manhãs após boas chuvas,

Quando íamos plantar só se ouvia sábias cantando.

Não queria estar plantando,

Queria está sabiazando.

O solo fértil pronto para germinar as sementes 

Parecia está contente com o canto do sabiá.

Em Campinas o sabiá vinha arrancar minhocas no meu jardim.

Até fazia ninho na linha da área de fora.

Amo o sabiá 😍


domingo, 28 de março de 2021

62. Ensinamentos

A gente trabalhava junto muitas vezes. É verdade não gostava de trabalhar na roça e ele sabia disso. Nunca me fez trabalhar em boque. Ajudava na enxada nas roças perto de casa. Lembro quando limpamos no entorno da casa de Begue. Quando limpamos a baixinha de arroz. Lembro de virarmos milho. Carregarmos nos caçoas. Lembro de apanharmos feijão. Lembro de destocarmos tirando forragem pros bichos. Mas papai sempre me poupou.  Foi maravilhoso. Ajudei  na colheita de ciriguela, pinha, de caju. Papai sempre me ensinou que é preciso responsabilidade na vida. Ensinou a pagar as contas e não dever a ninguém.
Ensinou muitas coisas. Sou feliz por isso.
Saudade de tu Papai.

61. Calumbi

 Calumbi

Arbusto de copa fechada, 

Mais eita que a rama é armada,

Armada de unhas de gato

As folhas bem miudinhas,

O cheiro da rama que forte,

As flores são tão alvinhas,

De doce maravilhoso odor,

Os frutos quebradiços 

Achatados e articulados,

Calumbi nasce bem alí,

No lado da cerca,

Cresce um inverno

Ou dois e depois 

Desaparece.


60. Turbilhão

 Escritos de Borges,

Fenomenologia do espírito de Hegel,

A crítica da Razão Pura de Kant,

Sonatas de Mozart,

São elementos que precisam serem conhecidos,

São elementos essenciais na expansão da consciência...

Sim a bíblia,

O Gita também.

Uma ou duas coisas de cada vez.

Não se pode com muita fome a mesa,

Nem com muita sede ao pote.

Se te apetece coisas simples e geniais da netflix, então se empanturre,

Se te cansas pensar, então simplesmente sirva-se deste banquete.

A vida tem os dias contados,

Faça sua opção.

59. Manhã Chopin

 Deitado no sofá,

Ouço o meu entorno,

A chuva chovendo,

Que chiado gostoso,

Um galo cantou,

Um papa capim,

Um bem-te-vi

Duas siriris 

No céu alvo voam tanajuras

E bem-te-vis a comer.

O ventinho frio sopra pela janela,

Manhã a dentro.


57. Vida enfeitada

 Casaca-de-couro pássaro estouro,

Em Serrinha do Canto em nosso sítio,

Na galha do cajueiro cantou e fez 

Um ninho a casa-de-couro 

Papai ficou tão orgulhoso

Papai ficou tão feliz.

Está ouvindo é a casaca de couro.

Vou plantar um cajueiro

Pra a casaca de aninhar,

E cantar, e enfeitar a nossa vida.

Até o picapauzinho ficará feliz,

A vida enfeitada 

A vida feliz.

Jaca em família

 Eu sempre amei frutas. Caju, goiaba, pinha, araçá, seriguela, pitomba, pitanga, umbu, cajarana, cajá, coco, coco catolé. Essas tínhamos em ...

Gogh

Gogh