domingo, 14 de junho de 2020

39. Blum de sensações

O vento que sopra suave,
Vejo no alto da serra as árvores rebanando,
Indo e vindo.
Esta paisagem que parece morta,
Mas que é viva,
Viva tanto em minha mente
Quanto na realidade.
A casa de vovó,
Vovó sentado na frente de casa,
Vovô na cozinha com mamãe,
O fogo de lenha aceso,
Aquela realidade que não entendia,
Essa realidade dura e sem enfeite, sem planta,
Me amedrontava,
Desse mundo por mim desconhecido.
Esse mundo que é o que é,
Foi e continua em transformação...
O Cheiro doce das flores mimosas,
O rosa dos paudarcos,
A baixa de cana,
A poeira vermelha...
Esse mundo real que continua ai.
O tempo que tudo imbrica e esconde...
Desconhecido, Desconhecendo.
E a vida que tudo transforma.
Realidades que se pintam,
E tomam forma
E que desaparecem.

38. Vento ao meio dia

A vida inteira tive certeza que a vida é efêmera.
Tive consciência aos meus sete anos que morreríamos.
Naquela tarde chorei e mamãe perguntou e não respondi.
Só chorei.
Corri para o quintal onde havia um cajueiro onde dormia as galinhas e chorei.
Chorei vendo os pés de pimenta carregados de pimentas vermelhas,
Chorei quando vi a altura dos coqueiros sinal de senescência.
Sobrevivi com minha mãe e minhas irmãs as secas, as privações, a saudade.
As rochas roladas nas estradas,
A areia trazida pela chuva anterior,
A dor de perder meu avó.
Consciência!
Consciência de minha realidade.
Consciência de uma realidade universal.
E descobri nos livros outras realidades para além da minha.
Aquilo que sei descrever,
E o que fica entalado em minha garganta e em minha alma por não saber expressar.
Aqui estou descarregando emoções.
Aqui estou... na certeza que este momento é efêmero,
De que logo será nada,
Será um vento ao meio dia.

36. Dúvidas

Tudo desaparece da face da terra.
Algumas coisas são mais duradouras que outras.
Nós vamos sendo substituído aos poucos.
Porque as coisas acontecem devagar,
Nem percebemos e quando percebemos já se foi tudo.
Até parece que tudo é eterno.
Mas não é,
Fugimos da realidade
E vamos para o mundo da imaginação.
Mas a vida é real e material
E efêmera e a qualquer instante pode terminar.
E tememos por isso.

35. Nada

O solo arenoso e alvo,
As ervas pequenas com flores alvas,
A paisagem compacta de arbustos e trepadeiras,
O cheiro do mato,
Meu ser...
As memórias, todas as memórias...
Do passado, daquilo que não existe mais.
Quantas paisagens,
Quantos domingos,
Quantas conversas,
Quantos vizinhos,
Quantos amigos...
Quantas chuvas,
Quantas coisas aconteceram em minha vida,
Quantas coisas aconteceram em nossas vidas.
O que foi e o que poderia ser,
Essa contingência que é a vida ou viver,
As perspectivas.
Como avaliar tudo isso,
O que passou a me constituir,
O que foi descartado,
Aqui estou,
Invocando memórias,
Registrando memórias...
Tudo é passageiro, inclusive este momento.
Só me recordo do solo arenoso, o lajedo,
As ervas, os solos a realidade
Sob minha perspectiva...
Tudo é contínuo
E infinitas as situações enquanto se reproduzem.
Nenhuma coisa seria capas de descrever isso.
Nada...

34. Vida

Passando aqui pela vida.
Vida breve ou vida longa.
O que gostaria de levar?
Sei que não tem como levar nada,
Pois não sei para onde irei.
Sei que o fim é trágico,
Mas se tivesse a opção de levar
O que levaria comigo para o infinito?
Levaria todas as minhas memórias
Memórias das paisagens da caatinga florida,
Levaria o cheiro e a sensação de abraço de meus pais,
Levaria o olhar dos meus familiares,
A alegria de mamãe,
A admiração por Borges, Mozart, Gogh.
Esta sensação de viver é tão maravilhosa.
Tão maravilhosa quanto era a impressão de que as coisas eram mais do que são realmente.
Sempre apostei nisso.
Sempre acreditei nisso,
Bem, hoje sei que é necessário muito mais elementos que essa impressão.
Ao menos,
A minha maneira de existir já chegou a um equilíbrio.
A vida vai passando,
A vida vai se desvelando,
E ao conhecê-la creio que posso um pouco mais.
Mas o resultado é sempre diferente do esperado.
Vida...

sábado, 13 de junho de 2020

33. Momentos preciosos

Tempo, tempo, tempo.
Ardido tempo,
Cedo tempo,
Tardio tempo,
Este eterno compasso,
Medida de nossa vida,
Que segue os ciclos naturais,
Dias, luas, estações, translações.
Numa sinfonia geométrica,
Que nos ensina e nos experimenta,
Muda, avança,
As vezes regride,
Algo que enche a alma.
Temos todos medo do fim, do mal e da morte.
E não seria diferente.
O tempo é nosso algoz?
Tempo,
Tempo,
A poesia que amenize o existir,
Este efêmero ser.

32. Paralela

Vivos?
Onde estamos?
Se nossas memórias nos traem.
Nunca estamos num único tempo.
Associado ao agora está o passado e o futuro a depender de nossas aspirações ou inspirações.
Visando um bem está.
Fugindo de nossa realidade.
Onde estamos?
Longe do aqui e agora.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

31. Festas juninas

Na época junina, noite de santo Antônio tem fogueira.
Lembro de ajudar papai a fazer as fogueiras.
A gente usava lenha de cajueiros e cajarana.
Como nosso sítio era grande nunca faltava madeira.
A noite papai acendia a fogueira,
A gente soltava traque e queimava Bombril.
E se sujava todo de poeira.
Tempo bom.
De manhã só restava a cinza da fogueira.
A gente se esbaldava de comer bolo de milho.
E éramos tão felizes.
Que é bom ser feliz todos os anos,
Mas esse ano.

31. Reflexão

A soma do dia se faz no fim de tarde.
O corpo que acumula cansaço,
Quer descanso,
Quer silêncio.
A sensação de bem está que sentimos nestes momentos.
Visto que nossa mente é sempre caos,
Paz é o que nós queremos.
Reflexão.

30. Calor da tarde

À tarde há uma atmosfera de silêncio,
A luz vai se encolhendo e se dourando,
Cães latem a toa,
Ouvimos o pio de bem-ti-vis.
Silêncio.
Sim um momento de reflexão.
Reflexão do oco gerado pela tarde,
Refletimos várias coisas.
Nos tornamos metafísicos e pensamos nossa existência.
Relembramos o passado, nossa maior referência,
Sendo que é no calor dos momentos que as coisas acontecem
E ganham sentido.
O calor da tarde,
A soma do dia quase se totalizando.
O pio dos bem-ti-vis dizem muito.
De onde sou,
De onde estive,
De minha história...

Despedida infinito e eterno

 A casa A casa que morei Onde mais vivi, Papai quem a construiu, Alí uma flor mamãe plantou, Ali vivi os dias mais plenos de minha vida, Min...

Gogh

Gogh