sábado, 31 de agosto de 2019

Nosso lugar

A gente acorda e se localiza pelo som.
As galinhas cantando na faxina,
Os sanhaços nas pinheirais,
O joao de Barro lá longe,
O vento no telhado,
A casaca de couro sabe la onde.
Um carro ou uma moto,
Um cachorro,
Cadê o gado,
Cadê os jumentos e burros?
Não estão mais aqui,
Não ha mais força para trabalhar,
O tempo passou.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Pequenas coisas


Acordar com disposição e ter um café para tomar,
Depois sair para trabalhar no que gosta de fazer,
Em seguida tomar um banho de água fria e lavar o corpo e a alma.
Sentar para almoçar acompanhado de quem se gosta,
Um cachorro, um gato e um periquito,
Ter galinhas e guinés no terreiro para se ter movimento e canto,
Depois do almoço poder cochilar,
E quando a tarde se vai, alimentar os animais,
Ver o por do sol,
Jantar ouvindo a hora do anjo,
E ver o seu escurecendo e estrelas surgindo a piscar,
E a cada vez no mês contemplar uma lua cheia
Em seguida dormir enfadado...
Não tem coisa melhor,
Viver é a mais divina de todas as coisas
Quando se valoriza as pequenas coisas.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Sensato

Fazer e desfazer,
Tento me construir do nascer ao pôr do sol,
Mas ao fim de tudo, despedaço-me em farelos e em pó
Que o vento leva e o mundo dissolve.
Essa luta insana de tentar afirmar o ser.
Os dias, os meses, os anos se passam e o que consigo tocar de realidade?
O que consigo sentir, o que consigo? Nada!
Talvez, não esteja observando da maneira como deveria.
Só quero ver que tudo esta iminentemente no fim.
Não valorizo nada, porque o que tenho é nada?
O que conquistei, conquistei... é isso?
Falta de gratidão, falta de discernimento.
Tenho que aprender a olhar as coisas sob outra ótica.
Lutar contra a natureza humana é algo insano.
Realmente insano.


terça-feira, 27 de agosto de 2019

Uma noite

O ano era 1986, o dia era uma quarta-feira, o momento era uma noite. Aos sete anos a gente não entende bem do mundo, não tem angustias da vida e nem gosta ou desgosta dos dias. Meus avós materno ainda moravam nas vertentes e lá estávamos naquela noite. Não havia eletricidade e a luz era da lamparina. A noite enluarada alumiava o serrote. No curral do lado da velha casa metade taipa e metade alvenaria ruminava o gado e vez por outra algum deles berrava ou tossia. Não estava acostumado com o lugar ou com as coisas, mas meus avós estavam. Então, fomos a casa de Moreninha fazer uma boca de noite. Saímos no escuro, caminhando pelo caminho já conhecido e limpo, uma descida breve e logo estávamos numa baixa de capim que era mais fria e o chão era arenoso, depois da baixa, caminhávamos mais um pouco e logo chegávamos a casa de Moreninha e Joquinha. A lamparina acesa, reunia todos na área e lá eles conversavam sobre tantas coisas, mas como não entendia, não me recordo de nada. As memórias mais antigas a gente lembra simplesmente como se fosse sombras. Lembro da voz de Joquinha, da voz de vovô Sinhá, das gaitadas de vô José. Para mim, este protótipo de mundo se mostrava belo, pacífico, natural e mágico. Lembro que depois que se passava duas ou três horas a gente ia embora e voltava pelo mesmo caminho com frio trazido pelo vento do nordeste. Então, já deitado na rede a gente podia ver a luz atravessando as frestas da porta e das telhas. Sei que a gente adormecia e não acordava hora nenhuma à noite, acho que pelo menos eu não. A gente naturalmente gosta dessas coisas mesmo sem saber o que elas significam.
Essa lembrança é maravilhosa. Estou aqui, mas vovô, vovó, Joquinha e Moreninha não mais. Para onde foram? Estão aqui esquecido em algum lugar de minhas memórias.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Busca

Busquei a ordem,
Busquei a liberdade,
Busquei ser impar,
Toda vida é uma busca,
Os encontros não foram surpreendentes como imaginei,
Minha mente envolvida por um ideal,
Cegou-me para a realidade.
Vejo o mundo como quem apenas sente,
Através de uma textura, de odores,
Pois não estou preparado para ver a realidade
Que só a visão me possibilitaria.
Então que resta senão continuar tentando organizar uma ordem,
Entender a liberdade,
Porque somos seres impares,
Mas, queremos ir além.
Que ilusão.

Ser humano

O instante presente que se desfaz no momento seguinte.
Devir...
Vir a ser e deixa de ser.
Existe um significado ou um sentido para isto?
A vida em fluxo através da matéria.
Pessoa dizia que metafísica é uma consequência de se está indisposto.
Acho que sou metafísico demais.
Então, perco-me buscando um sentido.
Por que tenho esses pensamentos?
Existe algo que poderia me ajudar a aceitar melhor tudo?
Provavelmente não.
Nem todo o conhecimento do mundo poderia ser eficaz,
Nem Kant, Schopenhauer, Nietzsche, Gogh, Borges, Mozart...
Poderia me explicar essa sensação,
Todos sentiram, todos sentimos, todos sentiremos.
Isto é parte de ser um humano.

sábado, 24 de agosto de 2019

Boa vida

O vento que passa agitando as flores de mitracarpus no campo e fazendo a palha seca do milho xiar.
As aves voando em busca de doces frutas,
O solo arenoso secando com abelhas de chão.
Qual é o meu horizonte?
Que beleza é essa que me encanta sempre,
Assim como essa melodia de Mozart me faz sentir bem.
Coisas assim fazem a vida ser boa.

Impressões

Às vezes, quase sempre, vejo imagens apenas em minha mente de lugares onde estive. Sinto um vácuo pois não sei explicar o que isso significa nem para mim mesmo. Talvez, isto seja comum às pessoas e seria interessante saber ou poder interpretar isto.
Hoje, estou vendo imagens do lugar onde vivi na infância e adolescência.
Vejo a caatinga que há entre a terra de Bunina, Beque e Papai.
Quantas transformações a terra junto com a água das chuvas já não proporcionou.
De secas a inverno, ervas e mata verde, seca e arbustos e árvores.
Que será isso? Tais impressões.

Perguntas

O que é a existência e o que é ser?
A vida, este intervalo entre nascer e morrer, ou seja, viver.
Embora, a natureza viva esteja aos seres vivos, apenas nós podemos agir pela razão e não apenas pelo instinto e, além disso, temos a incrível capacidade trabalhar e transformar o meio. Isso seria bom ou ruim?
Vivendo, descobrimos ou inventamos a razão, trabalhamos e transformamos a natureza de forma que ao longo da história, fomos criando, aprimorando e ampliando os conhecimentos.
Todavia, quando penso em indivíduo, em ser, isto é, em mim e em ti, qual é o meio termo para viver bem sem ser meta-físico?
Se nascemos programados para morrer e esta é uma condição para a vida. Não conheço quem nasceu em sã condição psíquica que não deseja permanecer vivo pela eternidade. É lógico que meu universo não é tão grande, pois minha rede de relações é muito restrita.
Já percebi que todos temos os mesmos problemas existenciais quanto a nossa capacidade de julgar.
Sofremos por nossos juízos de valor como saber o que é o bom ou o ruim, o certo e o errado, o falso e o real.
Nosso sujeito sempre nos engana pois sempre tendenciosos e julgamos em nosso favor. Então quando somos bons, certos, reais?
Se todos não tivermos o mesmo norte é lógico que nunca conseguiremos atingir a verdade.
Pode se perguntar, mas o que isso importa?
Bem importa muito se quisermos viver num mundo salutar.
Diante do caos que é entender o mundo não poderemos nunca responder o que é a existência ou o que é o ser.
Nenhuma ciência será capaz, talvez apenas a fé possa...
O que seria capaz de motivar todas as pessoas?
Acho que somos tantos que perdemos o norte e parece que por isso tudo fica mais difícil.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Perspectivas

Quando acordei na madrugada o céu estava tão lindo.
Vi um céu limpo sem nuvens com estrelas brilhando feito minerais de águas marinhas.
A lua crescente prateada alumiava as sombras da noite.
No nascente a barra vinha quebrando.
E a cada passo se seguia na rua, simplesmente as coisas começavam a acontecer e os primeiros desfechos do dia se fazia.
Nestes momentos a gente pensa na vida, na existência, nos momentos.
Nos extremos do dia sempre ficamos pensativos.
Nesses momentos, pensamos na realidade, na imaginação.
E alguma coisa começa a se construir ou terminarem.
Perspectivas... perspectivas...

Meu pequeno botânico

 Ontem, Vinícius e eu saímos para ir ao pé de acerola. Nunca vi ele ama acerola. Vamos devagar e conversando. Ele teve a curiosidade de ver ...

Gogh

Gogh