domingo, 7 de novembro de 2010

Dúvidas da vida

Minha mente está um embróglio, nem sei mais pensar, nem como pensar, o mundo não permite mais pensar. Como pensar se pensam por nós. Quando ligamos o rádio, a televisão ou nos ligamos na internet. Somos bombardeados com propagandas de compre isso, adquira aquilo. Promessas de que nossa vida vai mudar. Realmente recebemos uma avalanche de informações todos os dias, milhões de coisas são produzidas e nós, seres consumidores que somos queremos usufruir de tudo o que é novo, que vai mudar as nossas vidas. Ah! essa roupa vai me deixar mais bonita, ah! Esse batom. Hum, imagina eu dirigindo aquele carro. Que livros maravilhosos. Nossa você leu a veja, a isto é, o estadão... Estamos ficando paranóicos, querendo saber sobre tudo e todos. Não é fácil realmente o tempo encolheu, como absorver tudo em 24 horas, sete dias? um ano passa rápido. Meu deus já é novembro e ainda tenho memórias fresquinhas da virada do ano. Já vem o fim de ano de novo? E o que eu fiz? O que construí de novo? Não sei mesmo, parece que nada. Tenho uma certeza que consumi a maior parte do tempo em frente ao computador, consumindo meu tempo, alimentando minhas loucuras. Minhas loucuras? Será se são realmente minhas? ou será que todo mundo está nessa paranóia? Se todo mundo estiver não são minhas. Estou apenas seguindo o fluxo, a corrente louca do nosso tempo. Vivendo essa tal pós-moderinidade. Isso mesmo fui no google fiz uma busca e a wikipédia já deu até um conceito pra essa palavra veja:
Pós-modernidade é a condição sócio-cultural e estética que prevalece no capitalismo contemporâneo após a queda do muro de Berlim e consequente crise das ideologias que dominara o século XX. Está ai realmente somos loucos. É isso nós seres humanos somos todos loucos acreditando na razão. Somos regidos pelo poder hegemônico que dita como tem que ser as coisas. Dia a dia vamos absorvendo essas idéias, vamos perdendo nossas convicções. Tornando-nos escravos das ideias. Acho que estamos perdendo o referencial de seres humanos ORGANICOS. Cada dia mais acreditamos que podemos mudar o nosso mundo particular, acreditando que poder de consumo nos torna poderosos. Que grande engano. Queremos sumir com a morte, acabar com os ciclos da vida. Nascemos, crescemos e não queremos mais envelhecer, não aceitamos a velhice. Não queremos aceitar a realidade, por isso tempos que fazer de tudo para driblar essas fases. Por isso não paramos para pensar, pois se o fizermos seremos atropelados. E estou aqui coberto de dúvidas, medos e incertezas. Certas vezes escrevo algum verso, ouço a natureza, contemplo um por do sol, porque de onde venho as pessoas ainda tem tempo pra fazer isso, aliás sobra tempo de sentar na praça e conversar ou simplesmente senta-se na calçada da frente pra ver alguma pessoa passar, ou ficar contemplando a tarde. Sinto saudades daquele tempo, onde tinha muitos sonhos. Sim eu tinha muitos sonhos com estes alimentava minha mente, tinha tempo de pensar. Depois que cheguei neste mundo pouco tempo me sobra, tenho que consumir informações, fazer a tese... e pensar. Ai da droga do tempo novamente exigindo mais de mim. Eu sou só um ser humano orgânico que necessita comer, digerir, e descartar o que sobra, preciso dormir e esquecer o que tenho pra fazer senão não vivo pra mim, mas para o pós-modernismo. Senão a vida passará e quando não puder fazer mais nada, irei me arrepender de não ter vivido. Quando morava naquela cidadezinha não sabia que estava cavando minha cova. Pensei que fugir do cabo da enxada, da labuta diária, seria mais feliz. Não sei o quanto sou feliz e acho que muita gente tem essa dúvida. Imagine as pessoas que nasceram e cresceram aqui nesta ilusão de progresso que não sabem contemplar a natureza e que só sabem trabalhar. Que vida dura. Meu irmão já foi absorvido e só pensa em adquirir patrimônio para curtir a velhice. Acho muito legal conversar sobre os planos dele de ter casas de aluguel, melhorar a casa, não entendeu que a vida é o presente momento. Não sei explicar pra ele o mundo que conheço, mundo do conhecimento, dos livros, dos valores, das ideias, mas o fato é que sou igualzinho a ele e só mudei de foco. Ele acumula propriedade e eu conhecimento. Somos dois matutos vindos de uma cidade pequena com o sonho de progresso que estão passando pela vida. Aos poucos estou aprendendo a valorizar a vida, os instantes, mas estou pagando muito caro, dedicando minha vida a isso que faço e que sou e quero ser. Tomara não venha a perder a razão de viver.

sábado, 6 de novembro de 2010

Manhã efêmera

O sol só deu as caras ao meio dia, durante toda a manhã neblinou. Foi uma chuvinha fina, nem assim o calou passou, parece que minha casa é uma estufa. Acordei e fiquei deitado curtindo a preguiça. Pensei num monte de coisas, nada interessante a unica coisa interessante no ambiente era o canto das aves. E a manhã foi assim sem graça, sem luz. Agora o sol apareceu, espalhou o brilho por todos os lugares, nas gotas presa as folhas, no verde intenso das briófitas agregadas ao tronco das árvores. Pela janela aberta entra uma brisa fresca, úmida e trás o odor da magnólia.
Tomei meu café, pouco falei, colhi minha roupa seca do varal. Calmamente passa o dia.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

João de Licó

Uma das pessoas que mais nos servia era João de Licor, um senhor cheio de crença na bíblia, escrevia na parede da casa onde morava e da casa velha pertencente a sua sogra a sábia frase "Viva e deixe eu viver". Casado com Elita que recebeu o sobrenome de Elita de João de Licor. Ele veio do sertão lá para as bandas da morada nova. Depois que ficou viúvo casou com Elita. Nasceu e se criou no Jenipapeiro no município de Portalegre-RN. Ouvi muitas vezes ele falar deste lugar, ficava imaginando como seria. Tinha uma boa narrativa, costumava contar as histórias por meu pai que quase todas as semanas fazia uma boca de noite lá. Era assim desde que éramos criança. Sempre que ia pra lá a noite saia um café, um chá de folha de laranjeira ou um docinho, nunca faltava um agrado. Mais o melhor era ouvir as estórias que ele tinha pra contar. Fui crescendo sempre ouvindo ele falar dos sobrinhos que fizeram faculdade. Dois fizeram agronomia e um fez faculdade pra professor, biologia. Tinham feito a vida, ganhavam muito bem. Sempre que precisávamos de algo emprestado se ele tivesse nunca negava, ensinou todo aquele povo a ser solicito e era recíproco, só tinha um problema se emprestasse algo a ele tinha que ir buscar de volta senão ficava lá até precisar e se voce pegasse algo dele podia ficar o tempo que precisasse. Com ele não tinha frescura. Tinha uma voz arrastada, uma cabeça grande e os cabelos brancos desde que conheci-o. Andava sempre devagar. Acompanhava sempre o PMBD, foi assim até a morte. Nisso não concordava com papai que era do PDS. Eram como se fossem torcedores de times. Nem sabia porque era PMDBista, mas acompanhava o partido. Suponho que segui o partido que doutor Laci apontasse. Era muito amigo do Laci que foi um médico muito importante, diria que um dos primeiros que medicou ali na região. Desde que era pequeno ele via eu ler, estudar e dizia que eu ainda teria um bom futuro pela frente. Gostava quando nos domingos pela manha ele chegava lá em casa e ficava conversando até a hora de almoço. Nunca almoçava lá em casa ia era comer em casa. Sim, pois Elita cozinhava muito bem, gostava de comer carne de pato. Por isso ia pra casa. Quando vovó vinha passar uma temporada lá em casa, ele sempre vinha conversar com ela. Tinham quase a mesma idade. Aquele bom velho tinha uma língua afiada e quando se juntava com papai não sobrava ninguém em Serrinha do Canto que não passe na língua dos dois, três dependia do tamanho da turma. Quando fui morar em Natal não podia voltar em casa sem que ele fosse me visitar. Ficava muito feliz quando ia na casa dele, sempre saia uma broa com um copo de leite e uma boa conversa. Papai gostava muito dele, eu também pra mim era quase um avó. Faleceu velhinho com mais de 90 anos. Ele com certeza foi uma das pessoas que marcaram minha infância.

Vento da Noite

A noite

Quando caia a noite,
o céu peneirado,
todo estrelado,
o vento de açoite,

animava a noite,
elevando a poeira,
a luz ofuscar,

A ventania,
na noite vazia,
no vai lá
e vem cá,
canta a folha da carnaubeira,
a quenga de coco,
num tac-tac...
como um relógio,
ao tempo contar.

Nessa hora a noite chegada,
a rua parada,
não passa ninguém,
ninguém vai ou vem.

E o vento sorrateiro,
vento ligeiro,
a varrer a rodagem,
os terreiros.

E demora a passar,
mas parece um cargeiro,
a passar, passar, passar
e quando passa,
leva a noite,
só deixa a manhã limpa.

Chuva caiu

Fazia dias que não chovia. As plantas já estavam sedentas por água. O sol escaudante brilhava intensamente todos os dias. Fazia um calor infernal. Então hoje o fim da tarde ficou nublado, o céu sumiu, azul escuro, de nuvens. E assim escureceu. Achei que não iria chover, pois ventou um pouco, mas mesmo assim fazia muito calor. Então pingo a pingo foi caindo a chuva, foi engrossando e a orquestra se animou, não foi aquela chuva, foi algo tímido, mas veio desliguei até o ventilador. A natureza muitas vezes nos surpreende, nos traz coisas boas e a chuva pra mim é uma delas. Agora a noite segue escura, mas úmida ao sabor do som de gotas que despontam das folhas das árvores, dos fios. É a natureza da mãe terra atraindo para se a fonte de vida a água.

passa

O cão ladra na rua vazia,
cães respondem quebrando o silêncio.
O vento assanha as folhas da acacia.

A manhã passa!

Bom dia

Mal amanhece e toda a passarada já está numa cantarolada,
o cheiro da magnólia entra pelas frestas da janela e perfuma meu quarto.
Meu quarto parece está vivo, pois está tão quente,
deixo-o a meia luz só pra ver a chegada do sol.
Ronca ônibus no começo da rua e logo passa.
Canta forte o sanhaçu, bem do meu pé de acacia.
Canta o galo longe.
Ligo o rádio baixinho pra ouvir as notícias, e não desconectar da vida lá fora,
do som das aves.
Assim começo meu dia.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Músicas

Meu gosto por música não é lá apurado, nunca foi, aliás faz tempo que não ouço música. Na verdade quando morava em Serrinha, não tinha muitas opções, ou melhor, não tinha opções. Tinha uma ou duas fms e um monte de fitacassetes. Basicamente o que ouviámos era música brega, forró e sertanejo. Alguns cantores marcaram muito minha infância um dos que mais lembro e de Amado Batista, mais tarde vieram as duplas sertanejas e a minha predileta era Leandro e Leonardo. O grande sucesso "entre tapas e beijos" foi muito marcante pra mim, estourou no ano de 1988. Lembro porque na época vendia dindin no Porção, uma comunidade próximo a Serrinha do Canto, nessa época tinha nove anos. Era o climax das pessoas irem para São Paulo fazer a vida. Com a baixa escolaridade das pessoas pouco conseguiam, pois os empregos não ofereciam muito. Então era febre ir para longe e voltar no fim do ano com tênis de marca, camisas da hora, e um dois em um, e muitas fitas. A mulherada ficava maluca, com os patrícios vindo do sul. E o que tocava era a dupla Leandro e Leonardo. Eu pensava um dia irei pra lá e vou voltar pra namorar todas as meninas. E sonhava ouvindo as sertanejas. Nada disso aconteceu. Desgostei das músicas. Mais ainda quando ouço tenho boas recordações.

Música


Hoje quinta-feira houve apresentação da orquestra sinfônica da Unicamp no saguão ao lado da DAC, onde foi apresentado quatro músicas. A primeira foi uma música de uma peça de Shakespeare A megera domada, a segunda foi de um compositor alemão, a terceira uma opera de titulo O segredo de Julia e por fim uma composição de Gustav Holst. A orquestra sempre se apresenta as primeiras quintas do mês. Acho um espaço muito interessante para conhecermos mais sobre música, um momento pra contemplar a bela música. Bem que poderia ser mais frequente, mas já está bom. Assim mesmo.

Convolvulaceae

Ipomoea, Merremia, Jaquemontia, Evolvulus fizeram parte de minha infância,
mas como sendo diversas jitiranas.
Não é impressão não no sítio onde morei as estrelas caiam do céu pela manhã e se transformavam em plantas de estrelas. Transformavam-se em flores, azuís, como Ipomoea nil, Ipomoea parasitica, Evolvulus cordatus; rosas como Ipomoea bahiensis, Ipomoea incarnata, Ipomoea asarifolia; brancas como Merremea aegyptia, como Jaquemontia densiflora. Foi na infância que me apaixonei pelas flores. Fui um apaixonado pelas estrelas, fui amante das Ipomoea.
Lembro de ver verdadeiros céus de flores dia a dia. Quando no fim do inverno o céu tornavam-se bem mais azuis e os carrascos com mameleiros cobertos por Jitiranas tornavam-se rosados.
Aprendi a trabalhar, colhendo ramas de Ipomoea pra alimentar os porcos. Sim foram nas folhas de Ipomoea que descobri a forma do coração.
Foi as Convulvulaceae que me fizeram botânico.

Meu pequeno botânico

 Ontem, Vinícius e eu saímos para ir ao pé de acerola. Nunca vi ele ama acerola. Vamos devagar e conversando. Ele teve a curiosidade de ver ...

Gogh

Gogh