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VENTO NORDESTE - 1979
Nasci numa noite enluarada de verão que de certo o vento nordeste ventava. Era uma noite de quinta feira. Não sei por onde papai estava,
mas mamãe me paria na maternidade "Dr." Manuel Vilaça.
Às oito horas da noite 1 de novembro de 1979 pela primeira vez vi a luz
do quarto, só no dia seguinte vi a luz solar.
logo fui amamentado e dormi muito.
Voltei à casa onde fui gerado e já não era mais parte do corpo de minha minha mãe que doou todo o seu amor a mim.
Fui festejado e visitado por todos entes amados.
Riram de felicidade por minha vida a existência.
Era apenas mais um ser sem compreender o mundo em minha volta.
Era apenas uma expressão da vida se desenvolvendo sem nada compreender aos cuidados de meus pais.
Apenas me alimentava e dormia sem nada compreender.
Muito tempo se passou e a casa que me abrigou, abrigou muitos outros e hoje não existe mais, virou pó e as memórias se apagam lentamente.
Partimos muito cedo dali, para o lugar onde cresci e aprendi a apreender o mundo.
Sai do Sítio de fora para Serrinha do Canto...
Onde cresci sob o amor paterno, mas cresci como cresce uma erva no meio do campo.
Cresci rodeado pela natureza viva, plantas e animais...
Ali, aprendi a sentir, viver e ser do mundo.
Aquele mundo de apenas duas estações a de chuva e a de inverno.
Mundo onde a mais harmoniosa melodia era a das aves que eram quem muitas vezes encantava nas casas entisnadas pela queima da madeira para cozinhar o feijão, o arroz e o toucinho.
Aprendi sobre a vida com a vida.
A natureza aquilo que mais me encantava, aquilo de mais moderno que existia e nós não sabíamos.
Fui sempre pragmático, aprendi fazendo. Aprendi ajudando minha mãe e meu pai com as lidas da casa.
Ajudei no plantio e na colheita, na criação dos bichos.
Aprendi a respeitar os idosos e professores.
Aprendi a me virar e a viver naquele lugar.
Tinha muitos amigos com quem vivi e compartilhei uma vida semelhante.
Eles estavam lá, com suas grandes famílias e dificuldades, mas todos cuidavam de todos. Eramos uma grande família.
Não me lembro a noite que nasci.
Sei que era verão e que o céu estava plenilúnio.
Que a poeira tingia de vermelho os caminhos e os pés dos burros e pedestres.
Nasci só, mas cresci entre muitos
num lugar tão pequeno, mas tão grande para um ser crescer.
Este lugar pequeno que tanto foi habitado aos poucos desaparece.
O vento leva aos poucos as vistas e as almas.
E a terra consumiu e consome aos corpos e as almas.
Hoje os adultos de minha infância dormem lado a lado.
Já são tantos os que partiram
que parece que estou longe na viagem de minha vida.
Meus avós e alguns tios que sentiram-se feliz quando nasci já
partiram também ou e apenas dormem à sombra da eternidade.
Dormem com suas histórias que nunca mais serão contadas por falta de memórias.
As histórias desaparecem com seus protagonistas.
E o que faço com minha história que nem sei contar?
Nasci e desde que nasci não paro de caminhar, já passei por tantos lugares, conheci tantas belezas, mesmo assim não paro de
trilhar esta jornada que é a vida...