quinta-feira, 17 de março de 2011

Nada

Essa semana fomos almoçar e certa hora, já no fim do almoço, Deise minha amiga, falou sobre o pensar no nada. Ela disse que viu em um email que nós homens organizamos as coisas em caixinhas e que só podemos ter uma caixa aberta de cada vez, não conseguimos mexer ou deixar duas caixas abertas, falou também que temos uma caixa do nada, que é esta caixa que passa maior parte do tempo aberta. Achei muito legal. Ela falou que o namorado dela vive com a caixa do nada aberto, acho que também sou assim.



Quando penso, penso meu pensar?
quando penso no meu pensar,
estou pensando?
Conversando com o nada!
há momentos vazios,
em que não penso em nada,
e fico aflito por em nada pensar,
e fico cansado do nada,
paro em frente ao branco
que dar em minha mente,
sinto que estou ausente,
mas não sei onde estou,
pois não sinto pensar em nada,
então me ocupo de pensamentos
triviais, coisas banais,
escuto meu corpo,
percebo suas reações,
sinto fome, sinto medo,
sinto aflição,
parece que o tempo para,
sinto sono,
sinto sempre vontade de vi a ser algo,
mas não percebo um comando,
não sou consciente do que sou,
por isso, nada penso,
nada sou,
vago meu cérebro reluta,
e acabo imerso
no nada.

Nesse mundo

E esse mundo que eu vejo,
tão cheio de cores, odores,
cheio de textura e formas,
nesse mundo curioso,
que se revela a cada instante,
me surpreende sempre mais,
e aprendo os nomes das coisas,
desvendo seus segredos,
aprendo sobre a vida,
sobre a natureza,
aprendo a falar,
após muito escutar,
e aprendo a refletir,
e aprendo que faço parte,
deste mundo complexo,
e é pela linguagem,
que desvendo a imagem,
e tudo tem um nome,
tudo expressa algo,
ou nada expressa,
são meras invenções,
nos e nossas convenções,
aprendemos a viver,
crescemos neste mundo,
vendo as cores,
vendo os dias e as noites,
dias de sol, nublados,
noites estreladas,
as vezes enluarada,
e aprendemos a falar,
e falamos, sem parar,
esquecemos de perceber
na natureza da natureza,
que a tantos milhões de anos
aqui está,
e nós, pela linguagem
acreditamos na imortalidade,
mas aprendemos
com o tempo, que temos
muitas vezes de calar,
e contemplar e refletir.
É neste mundo que nascemos,
é este mundo que lemos,
que demos um significado,
ou simplesmente
somos.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Narração

Somos fascinados por estórias, gostamos de estórias lineares, lógicas agradáveis. Confesso que não sei contar uma estória e sou até capaz de acabar com a graça desta. Não aprendi a narrar, embora quando criança tinha um tio que contava muitas estórias e em todas elas papai dizia depois para mim, que aquilo não passava de mentira, que seja, mas viajava nas estórias que ele contava, cheias de vantagens. Não me importava com suas rugas sua idade, achava ele um senhor muito distinto. Era um irmão de minha avó, Raimundo Souza, morava no sítio barro vermelho, mas quando a sua esposa morreu, ele com o fogo dos homens do nordeste se ensaiou com uma mulher, Socorro que tinha uma grande família, morava na cidade, e foi ela morar no sítio levou consigo toda a família, o pobre do tio acostumando a viver em paz, passou a viver com uma família faminta da cidade, logo se pós a vender as coisas que tinha. Então na época passava uma novela na tv, Roque Santeiro, não é que ele se viciou na novela e todos os dias ia ele com a nova família para a cidade ver a novela. Não durou muito tempo e ele sob influência da mulher vendeu o sítio e foi morar na cidade, comprou uma casa na rua Raul Galdino, uma casa pequena, e agora ele homem do campo morando na cidade, o casamento durou enquanto havia dinheiro, quando acabou a grana, acabou também o amor, agora nem podíamos mais frequentar sua casa, ouvir suas estórias. Então se separou, expulsou a família de sua casa e como morava em frente a uma casa que tinha uma moça solteira, coroa, como chamavam lá, começou a se engraçar da mais velha, Baica era chamada, e começou um namoro, que deu certo. Baíca era meio surda e meu tio também, se casaram. Baica era uma mulher limpa cuidava muito bem do . Voltamos a frequentar sua casa, imagina que ainda é vivo, seus passos hoje são mais arrastados, a vista é muito cansada, não conversa como andas, as palavras arrastadas, já estão quase caladas, quando voltei a minha casa, não fomos mais lá visitá-lo, o tempo esta calando suas estórias, as vezes repetidas, mas era muito bem ditas, bem narradas. Papais não aprendeu com ele a arte da narração, aprendeu sim a ser um cínico, um gozador das palavras, acho que tenho muito do meu pai, mas ai como queria saber narrar.

Nada

Quando olho para o horizonte
e busco um ponto mesmo distante,
às vezes não encontro
e tenho somente a mim,
para algo encontrar,
então me encontro num vazio,
pois sou quase sempre vazio,
nada reflete em minha mente,
nada crio, nunca aprendi a refletir,
nem um reflexo,
então sinto uma tristeza,
e penso no pensar,
na minha mente pobre,
e me volto para o mundo,
e encontro no discurso
vazio meu,
algo a que me apegar,
mas nada, fala,
então calo e me encontro em pleno nada.

Frouxo vento

Adoro os dias cujo vento sopra frouxo,
nem muito nublado, nem muito ensolarado,
o vento parece dançar com os ramos das árvores,
o dia passa tão sossegado
que parece que estou no paraíso,
tudo é tão perfeito,
as flores rosa de paineira pelo chão,
o rosa das paineiras no horizonte,
o dia é prazeroso,
doce e vigoro,
sinto a alma da vida,
a paz humana.

terça-feira, 15 de março de 2011

Noite

Noite,
sempre que chegas e estou sozinho,
traz pra mim sua amiga solidão,
e ao encara-la sinto-me saudoso,
noite, quando calada,
o vento não te acompanha,
tu ficas tão vazia e quente,
noite,
noite,
noite minha companheira.

Movimentos

Lembro quando desconhecia a eletricidade,
em mim não havia nada, nenhuma vaidade,
gostava da luz das motos, quando a noite
passavam e clareavam através das frestas
das telhas, e via diversas imagens amarelas,
projetadas na parede escura, via a luz se mover
na parede, o movimento do claro,
de repente o apago. A luz era bela.
Então quando caia a noite acendia
a lamparina e aquela chama flamejante
dançava, e a fumaça se desfazia em
formas curvas. E quando caia a chuva,
cedo mamãe nos aninhava,
era gostoso e ainda é senti o cheiro da chuva,
o som dos primeiro pingos sobre as telhas,
sobre as bicas, pingo a pingo,
e entre os relampagos
clareava a antesala,
bradava o trovão,
dormíamos através dos movimentos,
das chamas, da luz, da água escorrendo,
do final silêncio humano.

Calar

Quando olho minhas mãos vejo as marcas de uma infância em que precisei trabalhar, tive tempo para brincar, mas muitas vezes tive que ajudar meus pais. Vejo as cicatrizes nas minhas mãos, nos meus pés. Marcas de um empenho, uma força aplicada a produção, marcas de quem necessita alimentar os animais, ajudar na lida. Tenho ainda marcas nas pernas, na cabeça e na barriga, cicatrizes das minha vida no sítio. Essas marcas hei de levar para sempre. Quando me ouço falar e tendo me expressar e as vezes não consigo, imagino que muitas vezes meu abrigo era calar. Aprendi somente a olhar, a amar a natureza. O que muitas vezes me faz calar é exatamente não saber como expressar o que sinto, isso me faz calar, e muitas vezes me angustiar. Não aprendi a expressar o que sinto e confesso que essas marcas são piores que as cicatrizes, são as marcas mais danosas. Como um animal que não sabe falar, muitas vezes fica a olhar e abafa a dor e se cala. Mas se sei falar, porque muitas vezes fico calado? Conversando com uma amiga muito meiga, amiga e simples, ela falou uma coisa muito linda e simples, ela falou dos valores que muitas vezes cultivamos e se não falamos é porque não aprendemos a magoar os outros, os valores que cultivamos muitas vezes é superior a expressão. Bem já é dito é melhor ser ofendido do que ofender. Neste ponto me encontrei, e agora sei que calar e respeitar o que o outro fala é mais parcimonioso. A partir desta reflexão, tive a consciência do que sou, e não mais sofrei quando quiserem me diminuir. A consciência da própria reflexão é maior força e amor ao próximo.

vento

Leva-me oh vento,
para além do meu pensar,
para além do meu olhar,
sinto calor, sinto sono,
e sei o que sou,
quem sou o que quero,
e o tempo
passa, incessante,
passa...
Leva-me oh vento,
e me deixa dos braços do tempo,
me faz adormecer
no colo da eternidade.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Consciente

Quando acordo e sei quem sou,
as vezes é tarde,
coisas que podia imaginar,
mas nunca imaginei,
nem sei,
quando acordo e sei quem sou,
não sei se estou sonhando,
não sei se sou,
soa o vento
sempre a mesma melodia,
as vezes me vejo sonhando,
e acho que sou,
mas as vezes penso que acordo
e não sou,
não sei.
Quando tiver consciência
de quem sou,
ai quem sabe serei,
sempre eu,
ou nunca serei
nada.

Só a fé

 É certo que morreremos, mas quando vários conhecidos e queridos seus partem num curto tempo. A gente fica acabrunhado! A luta do corpo com ...

Gogh

Gogh