domingo, 11 de abril de 2021

26. Juntos

 Após dia de chuva,

Domingo passou

Molhado e úmido 

Montei e colei um souvinir,

O dia foi muito longo e agora se vai.



25. Papai e os anos

 Oitenta anos vividos.

Meu pai viveu por este tempo,

Viveu uma boa vida.

Oitenta anos são cerca de 29.600 dias.

E um câncer o consumiu em 120 dias.

Na equação da vida nada mal,

Mas na equação do coração

Nossa que saudade!

Faz quase quatro meses que se foi e a vida 

Perdeu um pouco do brilho.

Mas a vida continua.

O mundo está aí.

Pandemia, isolamento e muita morte.

Melhor voltar no tempo,

No tempo do pensamento.

A realidade está dada, objetiva.

Foram anos bons nossos anos vividos juntos.

Tantos sorrisos,

Um calar, um falar...

O que dizer de uma realidade que sofre metamorfose o tempo inteiro

Que somos parte desta metamorfose,

Nada...

Melhor pensar na caatinga,

Nas estações,

Nas transformações.

E encerrar dizendo que papai 

Vive em nós.




sábado, 10 de abril de 2021

24. Pinheira

 Só de lembrar como era rico em fruteiras o nosso sítio dá até uma tristeza. 

Eram cajueiros, pinheiras e goiabeiras por todos os lados.

Do nada lendo Clarice Lispector me veio a memória uma pinheira que ficava à sobra de um grande cajueiro perto do barreiro feito para a confecção dos tijolos de nossa casa.

Aquele cajueiro que se juntava com dois outros formando uma agradável copa.

Tinha aquela pinheira e goiabeiras.

Tinha um capim tênue sob eles.

Aquela pinheira de pinhas suculentamente alvas. Quando tava na época era normal ir lá e encontrar pinhas madurinhas.

Então ficava atento as patativas e os sanhaçus.

Quantas vezes não enchi a barriga grande de menino.

Mais pra frente tinha a goiabeira que sempre ia com mamãe e subia pra tirar goiabas e me sentia grande.

Tudo se acabou.

Nossa terra tá aí.

Mas essas secas e falta de água foi matando tudo. Antes a gente mesmo replantava comia aqui e defecava ali. Tava feito a dispersão.

Agora temos muitos catolés.

As nossas lindas palmeiras.

Temos também pinheiras tudo em volta de casa.

Tomara o mato não cubra tudo.

Minhas areias amadas.

Gente a nossa vida muito está ligada a infância.

Não tenho mágoa dos trabalhos manhã cedo.

Era nossa forma de subexistência.

É a nossa história.

Foi nossa fonte de alimento de dinheiro para o básico.

A gente era feliz, pois desconhecia a necessidade.

Hoje a história é outra,

Mas aí que saudades daquela pinheira,

Que saudade.

Ali certa vez achei um ninho de nambu.

Fiquei tão feliz, pois aqueles ovos pareciam pérolas.

Alí fui tantas vezes.

Pensei na vida.

É sério.

O doce macio alvo de uma pinha 

Enchendo o bucho,

Trazendo contentamento.

Depois sair em busca de goiaba.

A gente explorava o sítio,

A geladeira nem existia.

Lembro que Chico Neco foi quem inventou

A papai comprar uma geladeira.

Era uma clímax azul.

A gente pra ter as coisas vendia um bicho.

O dinheiro era curto.

Pobre de Begue foi embora tão novo.

Fui mais velho e chorei que só.

Não imaginava que seria assim.

A terra tá lá.

A pinheira só na lembrança.


23. Cuidar

 A noite caiu chuvosa.

Escureceu e nem percebi.

Só percebi o riso de Vinícius,

O cheirinho bom de bebezinho.

Só cuidei dele.

Assim se passam os dias.

Com cuidado.

22. O jogo

 Olho pela janela o céu nublado. Faz calor.

Minha mente gira feito uma roleta russa.

São muitos os pensamentos e a concentração é mínima.

A roleta gira, gira e gira e não para.

Quando para o tempo exauriu.

Tudo está um caos em desordem.

O mal estar piora.

Calor,

Sono...

Por onde começar.

É muito mais fácil colocar o mundo externo em ordem.

Retratos,

Imagens,

Paisagens...

A brisa refrescou.

Para roleta.

20. Madrugada

 A madrugada é silenciosa e fria,

Só se acorda numa urgência.

Vinícius acorda faminto,

Não fala, mas gira e faz um gemido.

Eu acordo e pego ele e acordo a mãe

Deu ele para ela amamentar.

Penso em papai.

Um cachorro late afobado não muito longe.

Chove suavemente.

Lembro da chuva em minha casa.

Os pingos na bica. 

Quanto tempo já não faz que não contemplo este fenômeno.

Sinto repentinamente saudades de casa.

Esta prisão do vírus.

Chove lá fora.

Vou trocar Vinícius

Que a manhã está chegando.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

19. Fim de tarde

 Sexta-feira dia bom. Ótimo sem pandemia. Saudades dos encontros com os colegas, de ir para o trabalho. E voltar no fim da tarde. Todavia a mais de um ano estamos nesta. Sem almoçar com os amigos. Só casa e super mercado. Uma rotina longa. Não conseguimos distinguir os dias. Só sentimos cansaço.

21. Dialética pueril

 Estou desaprendendo a ouvir os pássaros,

Estou aprendendo a amar um pequeno ser.

Estou desaprendendo a caminhar de madrugada,

Estou aprendendo a observar um pequeno ser,

Estou desaprendendo tanta coisa,

Estou aprendendo tanta coisa,

É uma revolução,

Sinto gratificante trocar uma fralda,

Pegar o termo bebê,

Quando vejo que sorrir,

Meu ser explode de alegria,

Sorriso banguelo

O mais perfeito,

Ingênuo,

Doce,

E puro.

Não desaprenderei de ouvir os pássaros,

Ensinarei como se ouve a natureza e a vida.

18. Canafístula

É uma planta tão bela 
Tem flores amarelas,
Na copa simétrica,
Crescem ramos longos
Ramos inermes, tomentosos,
Com Estípulas caducas,

Quando florida fica toda amarela
Só se ouve o zunzun do mangangá
Abelha grande a polinizar pra lá e pra cá
Depois surgem longas vagens
 Vai crescendo e aparecendo,
Fica escura parte e cai,

Os animais dela se alimenta
E começa a dispersar
Como é linda a natureza
Com a vida a pulsar.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

17. Vida crua

 O vazio ao meu redor,

Uma infância silenciosa,

O mundo objetivo ai,

Mudo.

Meu mundo subjetivo.

Mudo.

Tudo estava ai dado.

Rochas, solos, plantas, flores, frutos.

Agricultura, pecuária, cozinhar e trabalhar.

A linguagem muda.

O que ouvia?

Não havia literatura, arte, ciência.

Era a vida crua,

A vida crua requer muito das pessoas,

Os estímulos o que nos envolve pode ser qualquer coisa,

Sortudo fui tive amor.

O lugar nu se mostrava,

Mas não tinha olhos para ver,

O lugar cozido se oferecia a uma refeição, mas a boca não era usada.

O início era o princípio mesmo,

Sabe um caderno, um lápis e uma borracha num saquinho de macarrão.

Todos éramos assim,

Isso...

Este reflexo da falta de recurso.

Este era o nosso retrato,

Essa era minha comunidade,

Minha realidade,

A vida crua,

A vida nua,

Mas a natureza diretamente nos ajudava,

E o trabalho nos fortificava,

Triste quem nem a natureza pode recorrer,

Triste quem vive a fome,

São as realidades deste mundo,

Com pessoas injustas,

Triste forma de ser,

Uns com mais outros com menos,

Sempre querendo,

Não foi fácil,

Porque ficamos com muitas marcas,

O importante é que deu certo,

Vem dando certo.

Um dia

 Um dia não estarei aqui. Pode demorar, Pode ser logo. Quem sabe! Bom agora estou pensando isso. Foi um vídeo de uma manbu que me fez pensar...

Gogh

Gogh