Sabe a gente se perde,
Se perde em tudo,
Porque tudo é nada,
Talvez...
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
O tempo,
O vento...
A rima,
O verso,
O poema...
Espaço,
Compasso.
Notas musicais,
Mananciais.
O tempo,
Essa linha que tudo marca,
Marca nossos dias,
Nossas experiências,
O tempo existe?
Sabe lá...
As memórias viscosas, fluidas,
Que são memórias...
Ser...
Não ser...
Quanta matéria para pensar.
Ontem,
Agora... hoje,
Passado e presente.
Ser.
Que pode mudar?
Que pode mudar?
Desconhecer,
Conhecer...
A indiferença.
Tudo é tão rápido,
Mistérios,
Desígnios divinos.
Domingo,
A casa com paredes de taipa,
Só a sala com tijolo adobe,
E telhado com telhas velhas irregulares,
Abrigava a família de José Neves,
Ali habitava Sinhá, José e Lera,
O terreiro de solo alvo,
Estava todo varrido,
Arrastando as asas, com crista dilatada cantava o peru glugluglu.
Do lado de fora da porteira badalava o chocalho das vacas,
O cheiro de estrume aromatizava a paisagem sertaneja,
A janela da cozinha aberta,
A porta da cozinha aberta,
No fogão cozia o feijão,
O fogo laranja dançava,
Na panela o feijão com carne de boi borbulhava e soltava um gostoso aroma,
Que despertava fome na gente,
Uma melancia aberta,
Coalhada no alguidar da forquilha...
A luz iluminava o serrote,
As algarobas e pinheiras faziam sombra,
Na fachina as galinhas cocoricavam,
Vovó Zé, Mamãe, Migué e Vovô Sinhá a conversar,
Uma conversa que não entendia,
Preferia só olhar no oitão a escora da parede,
As paisagens plantas,
A serra,
Enquanto isso cantava no campo o tico-tico do campo,
Na pinheira cantava um golinha
E na gaiola o sabiá de vovô...
Que anos maravilhosos os anos 80,
Da minha infância, da velhice de meus avós,
Do eterno encontro da vida,
Das gerações se enlaçando e desenlaçando,
Feito a dança de Shiva,
Na destruição e construção...
E a consciência que tudo isso não passa de ilusão
Quando nasce o dia,
Após a noite chovida,
Como canta a passarada,
Canta o fura-barreira,
O cabeça-vermelho,
O sanhaçu,
Longe canta a sapaiada,
Em casa o cheiro da terra molhada,
Se mistura com o cheiro de café com cuzcuz,
Enquanto badala na estrada o chocalho das vacas,
Eh! boi, aboia Loló de João Corme,
Vavá grita Diniz,
E só se ouve o chiado da vaçoura de Diassis...
Passa Josimar,
Passa Bunina,
E depois Teta com o leite tirado dos Joanas,
Então Papai, Chico Raimundo, bate o enxadeco,
Deixa a bacia cheia de milho e outra de feijão e o outra de fava,
A terra molhada,
A tanajurada voando para o céu perdidas,
E os pássaros enchendo o papo,
Então segue para o roçado,
Na frente vai o pouco gado,
Papai, Rosângela, Meire e eu, Rubens...
Papai cava as carreiras tortas na terra escura do ano passado queimada,
Se mistura o cheiro do verão e da chuva do inverno,
Que doce aroma,
Dog longe late,
Se vê Zé de Geremias trabalhar nas terras de Dudé,
E as carreiras tortas papai vai abrindo,
Se ouve o pic-pic do enxadeco na pedra da terra,
E eu vou ensamiado fava, Rosangela plantando milho,
Se ouve o ronco da sapaiada,
E no céu canta o gavião,
O sol aparece entre a chuva,
Casamento de viúva dizia vô José...
O tanque encheu de água,
Plantamos mais que legumes,
Plantamos esperança,
Esperamos por bonança,
Desta terra tanto arada...
E no fim da manhã a terra plantada,
A gente volta pra casa de pés enlameados,
Felizes por terminar mais uma planta.
Agora é com a natureza.
Sou filho da terra,
Plantei e colhi milho e feijão,
Na minha roça,
Cansei de admirar a lavoura crescer,
Vi as estações secas ou invernos,
Me acostumei com a lida da vida,
Me acostumei a trabalhar,
Sou filho da terra,
Sou dono da casa,
Sou dono do nada,
Agora fui...
Mas amei tudo...
O que entendi e ignorei.
As coisas se sucederam tão rápido,
Entre a descoberta e sua partida.
Às vezes, pego-me sem acreditar,
Mas Deus nos deu sinais,
Ele pode visitar os filhos,
Viu os campos floridos de um grande inverno...
Comeu, sorriu e amou tudo isso,
Me apavorei só de pensar em tua partida,
E agora que partiu
Meu peito se enche de saudades...
Saudades de seus abraços,
Saudades de seu cheiro,
Saudades de sua voz...
O papa-cebo anuncia o verão,
O galo-de-campina canta na madrugada,
Os sanhaçus azuis cantam durante o dia,
O cantar da passarada é poesia
É alegria,
O vem-vem de peito dourado,
O saci de cucuruto invocado,
Cantam a vida,
Cantam a chuva,
Cantam o tempo...
De quem foi,
De quem é
E de quem será.
A casa A casa que morei Onde mais vivi, Papai quem a construiu, Alí uma flor mamãe plantou, Ali vivi os dias mais plenos de minha vida, Min...