Minha formação religiosa é católica. Toda minha família fora católica, na casa de minha avó paterna tinha até um altar, já nas outras casas, resumia-se a fotos e terços, santinhos. Lá em casa tinha um quadro que papai comprou no Canindé no Ceará. Gostava de ver aquele quadro, tinha um Jesus com um olhar triste e um São Francisco. As vezes ficava deitado na rede do meu quarto mirando aquele quadro que viria significar aquilo, não sabia, não entendia. Bem, como sempre moramos no sítio e a igreja ficava na pequena cidade de Serrinha dos Pintos que na época não era emancipada ainda. Com um padre único para uma paróquia enorme, nosso distrito tinha apenas duas missas no mês, as primeiras quintas e nos terceiros domingos do mês. Então como eu e meus irmãos erámos muito criança, não podíamos ficar em casa só. Na primeira quinta as vezes papai e mamãe arrebanhava a turma e nos levava para a cidade. Quando chegava na cidade quase sempre passava na casa de uns conhecidos deles, nossos, na casa de seu Chichico de Apolonha, não sei de onde veio a amizade de pai com aquele povo eu não entendia nada ou a casa de seu Leopoldo, pai de Tica uma vizinha nossa. Não gostava muito de ficar na casa de seu Leupoldo, porque tinha dois deficientes físico, Chico e João. Era uma luta pra eu ver eles, chorava, fazia um espetáculo. Não entendia como aqueles corpos ficara deformados imóvel, me assustava. Bem então íamos finalmente para a igreja. Nossa como era enorme aquela igreja mais alto umas quatro ou cinco vez mais alto que o teto de minha casa. Não gostava da igreja, não entendia nada lá. E o tempo demorava uma eternidade para passar. Como morava no sítio era meio matuto, morria de medo de me perder no meio daquela multidão. Aquela multidão me apavorava, era gente pra dar com pau. Nunca tinha visto tanta gente, sentada ou em pé ouvindo um homem falando. Mamãe queria que eu fosse sentar lá nos batentes do altar, mas quem disse que eu tinha coragem. Ficava ali no colo dela ou em pé. Não prestava atenção em nada do que diziam. O que me chamava atenção era o dançar do fogo da vela, ou o chão da igreja. Isso mesmo o chão tinha umas cerâmias ou sei lá que piso era aquele que dava pra formar várias imagens, então ficava avaliando quantas imagens podia formar. Via ali quadrados, estrelas, cubos e por fim um chão. As vezes cochilava. Eu deveria ser chato, não largava a barra da saia de mãe. Infinita aquela missa. Eles distribuíam um jornalzinho e uma folha de canto pra acompanhar a missa, mas mamãe nunca pegava, não sabia ler bem. As vezes pegava pra ver uma figura que representava a leitura principal. O melhor mesmo era o fim da missa. É no fim da missa papai passava na cigarreira e comprava balas para nós. Quando ele estava bom mesmo. Ai quando chegava na bodega de Neco de Leopoldo ele comprava refrigerante, nossa que delícia tomar aquele refresco cheio de gás. Sempre ao fim vinha aquele arroto forte que chegava a tirar uma lágrima. Pai as vezes comprava pão. Iamos pra casa então. Papai e mamãe cheio de Deus e nós cheios de gás. Depois que cresci vendo meus pais indo para a igreja sempre, aprendi a ler, comecei a acompanhar no jornal o ritual, aprendi a me benzer quando entrava na igreja, não era educado não, mas mamãe me ensinou a dar o lugar aos mais velhos não entendia o porquê. Depois aprendi, passei a gostar da missa, ainda mais depois que comecei a ver as menininhas que estavam por lá. Criei respeito por Deus, ainda mais com com aquele cristo cruscificado na cruz por mim. Que sacrifício pensava. Sou pecador. Pensava se for pra missa deus vai realizar todos meus sonhos. Aprendi a pedir a deus depois que rezava, antes de dormir. Tenho minha formação católica, mas hoje eu sou católico.
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
terça-feira, 26 de outubro de 2010
verão
Sai de casa no fim da tarde,
o sol estava tão quente,
o céu tão azul
com algumas nuvens de algodão.
Sai a pedalar,
sentindo o vento no rosto,
e vendo intenso verde
das árvores.
verde tão intenso que chega a brilhar.
passo a praça,
quando chego perto
do convento,
toca o sino indicando,
a hora do anjo,
hora em que a natureza se recolhe.
dobra o sino,
avisando
que a noite já vem,
mas as árvores não estão nem ai,
brilham,
sentem o calor do verão.
sol cadê voce?
O dia nasceu,
mas o sol não apareceu,
o galo não cantou,
só o sanhaçu e o sabiá.
As nuvens apareceram escuras,
avisando já vem a chuva.
hum que calor!
Abro a porta,
sinto o mundo abafado.
o dia nasceu,
mas o sol não apareceu.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
viver
Mais um dia,
mais uma noite,
e assim se vai a vida,
e assim vivemos a vida.
entre altos,
entre baixos,
vamos suportando as dores,
ganhando alguns risos,
dia,
noite,
tédio,
ociosidade,
vida vida vida v i d a.
Cantador
Quando o celular me acordou, não me despertou sozinho. O que realmente me despertou foi um galo cantador apareceu na vizinhança. Cantou um canto forte. Que lindo canto! deve ser um galo e dos grandes. Um galo dominante. Cantou várias vezes. Depois sonorizou uma cantarada de pássaros que abriu meu dia. Acordei com um brilho no coração.
domingo, 24 de outubro de 2010
Vida
Que incerta é a vida,
tentando sobreviver,
a cada dia.
Que incerta é a vida,
vencendo obstáculos de
cada dia.
Essa luta pela vida,
quotidiana que vence que perde.
Essa vida sem sentido,
essa vida que si vive.
dia a dia.
Dia de vitória,
dia de derrota,
faz parte da vida,
essa vida contínua,
que perfaz dia a dia,
Essa vida linear,
que segue sempre em frente,
que apaga, faz esquecer os rastros do ontem,
que projeta os rastros do amanhã.
É a viva que pulsa,
que nos faz viver,
que nos experimenta,
que nos ensina a vencer e a perder,
que nos ensina que viver é sublime,
que da mais armada planta,
mais bela flor desabrocha,
vida com seus encantos e desencantos.
Cheia de luz cheia de trevas,
amores e desamores,
felicidades e infelicidades,
simplismente,
vida.
Férias de fim de ano
Férias
Minhas primeiras férias só na casa de parentes aconteceu no fim do ano dezembro de 1991, tinha apenas 12 anos. Acabara de concluir a quinta serie do ginásio, foi um ano muito difícil, fiquei de recuperação em matemática e português, ali naquele ano seria como cruzar o cabo da boa esperança de tamanha dificuldade. Bem fui na onda dos moleques, novos amigos que conheci e nessa ia me dando muito mal. Não gostava nem um pouco das aulas, ainda não faziam sentido pra mim. Mas o fato é que gosto de ser desacreditado, gosto sempre de atingir meus objetivos, tive que estudar mais pra passar de ano. E consegui, passei pra sexta série, bem depois eu conto, mas só pra ter uma ideia depois da sexta série tomei gosto pelos estudos. Por ter ficado de recuperação minhas férias foram menores, mas passei, não podia ficar pra trás demais, sempre era um ano atrás de minha irmã. Enfim, nessa época tinha Nevinha e tio Aldo já estava morando no sertão, lá nas Pitombeiras, eu ainda não conhecia e queria muito ir pra lá porque seria um novo lugar que iria conhecer e ficava próximo da casa de Maria filha de tio Aldo, ela tinha três filhos seria muito legal, iríamos brincar muito. Bem pra ir pra lá eu precisava pegar um carro de linha que na época era o de seu Tonho, uma F4000 na epoca eu achava muito bacana era uma 3/4 linda, já tinham mais modernas, a de seu Tonho tinha a boleia amarela com com decaultes pretos, faróis redodndos, as mais modernas tinham faróis duplos e quadrados. O quadrado era moderno pra mim. Bem no dia combinado pra ir, fazia dias que estava contando dia a dia no calendário. Acordei mais cedo pra não perder a hora, tomei o café e fiquei na área esperando, vazia um friozinho gostoso, a luz do sol despontava no nascente, o céu estava crepuscular, era aurora, a luz dos postes ainda estavam acesas. As galinhas já andavam pelo terreiro frio. Bem na frente de minha casa tinha um cajueiro onde as vezes parava vacas e faziam cocô, mamãe ficava muito irada com isso, pois todos os dias ela tinha por obrigação varrer o terreiro aquilo era sua ginástica quotidiana, varria com melosa, Stylosanthes viscosa para os conhecedores de botânica, bem como já acordamos, ela já foi fazendo a vassoura. Dai a pouco ouvimos o timbre do carro que já vinha lá por seu Mundinho ou Lolo, só podia ser por ali, pois tinha um alto ali, e bem em frente a casa de Dequin, o carro acabara de subir o alto, logo em frente a casa de Loló começava a descida, então na casa de Dequin o motorista dar uma desacelerada, e logo troca de marcha e na casa de Loló da-lhes outra marcha o carro soltava aquele timbre que avisa a quem tivesse atento. Nossa memória de timbre é muito aguçada, aprendemos fácil quem vinha só pelo timbre, logo ouvimos ai pai falou que já vinha corri pra estrada e ele veio junto, deu com a mão e o carro parou era um pau de arara, cheio de bancos uns sete ou oito, sem muito conforto, mas pra mim na época era um carro. E lá vamos nos Serra abaixo. Que felicidade, ir pro certão passar em Pau dos Ferros a maior cidade que eu conhecia, tinha até sinal de trânsito. Bem quando chegamos depois do pé da Serra o carro parou para as pessoas fazerem um lanche, estava cheio, não tinha dinheiro pra fazer lanche, além do mais a viagem demorava menos de duas horas. Depois seguimos para a cidade. Chegamos lá cedo, então quem me levou pra casa de tia foi Zezim. Ele tinha uma moto 82 vermelha de tanque redondo, era feia mas muito boa, pra época, começaram a sair as Hondas 92 as mais lindas motos. Ele ia todos os dias vender leite, então amarrou as os baldes e lá fomos nós sertão a dentro. Quando cheguei na casa das pitombeiras fiquei maravilhado que casa grande, enorme desci, não vi muita graça lá não tinha crianças, mas tinha uma televisão daria pra ver as novelas, era muito fã de novelas. Desenho que mais gostava, ah isso não daria, tia Nevinha não gostava, nem novela ela gostava muito só de jornal, como não entendia jornal nem liguei, pensei quero é ir lá pra Maria, lá tem açude, monaretas, mas bem fiquei lá em tia, foi muito gostoso, no sábado de manhã tio algo arriou a carroça numa burra branca e fomos à cidade. Que coisa boa aquela burra mais parecia uma C10, corria que era uma beleza. Tio Aldo era um homem muito bem humorado, barriga cheia, com ele não tinha miséria. Já tia Nevinha era muito nervosa, se irritava fácil, falava muito alto. Os filhos que moravam com eles era Aparecida a caçula e Nobe que fora adotado. Bem aquele dia de feira foi muito bom, fui num mercado que fiquei boquiaberto com o tamanho, nem em Serrinha, sequer em Martins, bem já tinha ido a Alexandria onde morava tia Chaga e tio Dedá, mas lá também não tinha. Uau, pensei e se me perder. Fiquei esperto de me perdesse ali estava lascado, seria um morador de ruas. Tinha muito medo de me perder. Voltamos pra casa, depois fui lá pra casa de Maria, antes fui na casa de Zé irmão de Zezim, outra casa enorme linda, com vista pra Chico Dantas uma cidadezinha e para dois açudes. Tanta água refresca o ambiente. Ah na casa que tio Aldo morava em frente tinha um açude muito grande, tinha muito peixe lá, quase todos dias que estive lá comi muito bem a comida da tia era saborosa. Era arroz da terra, peixe, carne, preá e banana. Era uma fartura. Bem a casa tinha dois lados com enormes varandas, fresco. Em frente a casa tinha um poste com luz. Certa vez foram roubar peixe no açude, mas tio Aldo escurraçou os ladrões à bala, tia Nevinha contou esse epísódio enquanto estávamos sentado na área. Tio Aldo trabalhava muito lá, e nós sentados na área ouvindo o som das siriemas. Essas férias passaram muito rápido.
sábado, 23 de outubro de 2010
Passiar só
Quando ganhei a confiança de mamãe e ela viu que já era uma pessoa responsável. Ela começou a deixar sair de casa sozinho, pra lugares longe de casa, tipo a casa de meus avós e a casa dde meus tios, claro que não ia em toda casa, mas ia na casa que tinha mais crianças, no ambiente que achava mais legal. Um dos lugares mais fascinantes no meu mundo infantil era a casa de vovó que meu tio Miguel morava lá. Achava aquele lugar mágico. Ali tudo era diferente, pois aquela casa velha ficava no pé da serra. Onde a paisagem era bem diferente de onde morávamos, no pé da serra tínhamos caatinga, mata branca, com árvores baixas e retorcidas, cinzas, e muito cardeiro, muita imburana, muita catingueira, e muitas aves que não dão na serra, lá tinha golinho, era difícil ver um golinho na serra. Lá tinha nos terreiros, tinha também rolinhas cascável que tem o corpo coberto de penas, mas aquelas penas parecem escamas, quando voam fazem um som muito bonito. Adorava ouvir seus cantos com duplo som "tou tu tou". Fazcinava-me aquelas paisagens, então aprendi a ir pra casa de Miguel que tinha cinco filhos e quando chegava lá eu era a sensação contava minhas histórias e ouvia as histórias do meninos. A mãe deles Tereza também contava histórias. Mazildo mais parece são Francisco, pois tinha uma amizade com os animais tão intensa. Ele tinha aves que ele mesmo criara, golinhas, rolinhas, bigodes, cantos de ouros, ele tinha um problema na perna. Era um menino muito inteligente, sabia das músicas que passava na rádio de cor, sabia cantar. Já Macilho era mais quieto, Maria era cheia de riso e Bibia calada. Engraçado como eles riam do que eu falava ou fazia. Chegava lá então a gente saia pra caçar de baladeira, era muito ruim de pontaria. As vezes ia a pé, as vezes de burro, mas nunca fui de bicicleta, tinha as pernas finas, mas muito rápidas, sabia de caminhos mais rápidos. Quase sempre ia no sábado, dormia lá. Gostava de dormir lá, pois dormia de rede. E dava pra ver a luz da lua entrando pelos furos das portas e janelas velhas. Acordávamos cedo, tomávamos café, tudo era só brincadeiras, no fim da tarde tinha que voltar, as voltava de carona ou voltava a pé. Chegava em casa cansado, mas feliz. Sentava na calçada mirando o horizonte. E assim foi por muito tempo, alí passei meus domingos.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Concentração
Sentado sob uma árvore no alto de uma serra, miro a extensão do vale e o horizonte distante. Daqui de cima sinto o vento viajante incessante toca meus cabelos, minha pele e parte levando de mim a meu odor, deixando-me numa sensação de liberdade. Sinto a pressão de meu corpo sobre mim, o solo frio. Começo então viajar dentro da paisagem que vejo. A contemplar a luz do sol que me permite ver as cores e distinguir as formas. A ver cada parte da paisagem como uma paisagem peculiar. A sentir o cheiro do ar, ouvir o que fala a natureza confesso que quase sempre não compreendo nada, mas nada do que fala a natureza, porém mesmo assim me agrada ficar a contemplar a natureza, a ver a beleza na vida, as vezes é muito difícil, no entanto busco sempre tentar entender racionalmente, pois muitas vezes achar que compreendi, traz-me uma sensação de satisfação. Hoje que moro muito longe das paisagens que contemplava, simplesmente sinto muitas saudades. Nem sempre tive o que queria. A vida já foi muito mais difícil. Quando morava com meus pais era feliz, mas sempre quis ter mais, ser mais que foi, não era preciso ter muita coisa pra isso. E quando não podia ter, comprar nada. Simplesmente tinha que aguardar o dia chegar até eu conseguir meus objetivos. Quantas vezes não consegui, lembro que fiz três vestibular, mesmo assim nunca pensei que não seria capaz. Era difícil aceitar que não seria daquela vez que eu entraria na universidade, mas fazer o que. Restava esperar e estudar. Lembro que certa vez saiu o resultado e não passara, no mesmo dia comecei a estudar. Quando ficava muito triste, pra não preocupar ninguém, eu saia a caminhar por entre matos, caminho a fim. E pensava eu vou conseguir. Caminhava olhando pro poente, contemplando o sol, as nuanças da natureza que me cercava. Triste, sentava e contemplava, comentava pro sol que um dia eu iria conseguir. Tinha que me convencer que era possível, por isso pensava, acreditava. Preciso ser forte e acreditar mais que nunca que tudo valeu a pena, que cada tijolo que carreguei serviu pra construir minha morada. Hoje descobri que não preciso de morada, pois somos viajantes e devemos sempre viajar.
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