Tenho amigos que já me perguntaram diversas vezes se eu pudesse fazer algo naquele momento o que gostaria de está fazendo? Confesso que nunca tive uma resposta pronta, porque pra mim o que interessa é o presente. Bem essa seria uma resposta racional e rápida. Em companhia de alguém não sentimos solidão, mesmo que seja alguém que não gostamos, pois temos outros sentimentos que vão além da solidão. Mas e se estou em casa e o fim de semana chegou, estou só, faz calor, estou com sono. Como iria responder a tal questão. Talvez gostaria de está com a namorada, com os amigos, qualquer coisa menos sentir solidão. Não adianta, somos seres solitários. Nascemos só, vivemos só com nossos pensamentos, muitas vezes não nos suportamos, queremos fugir de nós mesmos. Sentimos saudades de sermos nós mesmos. Somos seres extremamente sentimentais. É a partir de nossas sensações que construímos o mundo. O meu mundo é extremamente subjetivo, converso muito comigo mesmo em pensamento, e não conheço a mim mesmo. Agora conheço a importância do conheça a ti mesmo. Não consigo idealizar onde eu estaria agora, acho isso tão egoísta. Acho que sempre fugirei pela tangente. Gostaria de está aqui e agora. É extremamente brilhante a capacidade que algumas pessoas tem de idealizar as coisas, potencializar os desejos, fazer planos. Por que será que comigo isso não acontece? Sei que estou sendo redundante, mas porque não penso em algo bom? por que evito de pensar? um dia quem sabe isso não acontecerá?
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
galo de campina
O magestoso galo de campina canta,
quando canta a natureza cala,
seu expressivo canto desperta a caatinga,
cabeça vermelha, bico de prata, corpo criso,
canta.
Sorte de quem vive no sertão
desperta ao som de uma orquestra,
corrupião, cabeça vermelho e rolinhas.
O magestoso, faz uma cantarada...
desperta a madrugada.
Acorda
Ainda me lembro, ouvir papai carinhosamente me chamar dizendo que o burro já estava arriado, era hora de buscar água. Era um gesto de muito carinho, pois ele acordava mais cedo ia até o paieiro e trazia o animal arriava e me chamava, enquanto fazia o fogo. Vinha chamava baixinho pra não acordar as menina. O sol já despontava no nascente, mas o sono como era intenso. Nem era tão cedo, mas esta frio. Levantava, escovava os dentes, vestia uma blusa, montava no burro e segui para a gruta de Zezin, pelo menos nos primeiros meses do verão, mas se o verão se estendia tinham que ir buscar água bem mais longe, no açude do Alívio, uns 4 km, pobre dos animais que levavam aquela carga pesada no espinhaço. Tinham aqueles que tinham burro e as vezes voltava montado, mas quem tinha jegue não podia fazer essa proeza. Pobre dos jegues, mesmo magro, com pouco pra comer viva a carregar peso na casa, água, lenha e forrage. Naquele tempo o jeque era muito importante era o transporte da casa. Vou na casa de fulano, vai de jegue. Haviam aqueles que viam de longe, lá do sertão, punha dois caixotes, com peixe salgado para vender e comprar uma feirinha da semana, os pescadores e vinham de jegue. Papai quando era pequeno adiquiriu dois jegues o primeiro era preto, forte e sadio. Parece que os jeques pretos são mais fortes que os marrons, mas esse ficou velho então papai adquiriu um cinza, marrom e tinha a orelha corta, não era Gogh, mas tinha a orelha cortada, não sei por que, maldade de ocioso ou as vezes pra identificar posse. Aquele jegue da orelha cortada era muito engraçado, pois quando bebia água ficava com a língua de fora, mordia e dava coice se visse que a pessoa tava com medo ele muchava as orelhas e mordia. Depois papai foi a Pau dos Ferros e comprou um burro manso e bom de carga, mais eficiente que o jeque, então ele vendeu os jegues. O fato é que vi sempre o dia despontar no horizonte, buscando água. Achava preguiçoso quem não acordasse cedo, ficava muito feliz quando era o primeiro a chegar na fonte, ser o primeiro a terminar de por água. Depois da primeira carga tomava o café. Nosso café era rústico, dia era pão de milho como nata, tapioca com nata, broa de milho, ou broa de ovos e café com leite. E vamos lá. Vai ver mais uma que ainda precisa. Lá em casa três cargas eram suficientes, todo dia. Aprendi a importância de viver o dia, trabalhar, pois sem trabalho, sem comida e sem banho. Obrigações de criança é importante pra disciplina. Uma vida feliz.
Madrugada
Madrugada fria,
escura e vazia.
o silêncio negro da noite paulatinamente se vai.
Canta um sabiá.
o dia se rebela.
Meus olhos pensados despertam,
o relógio cobra minha atenção,
Bom dia,
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Quotidiano
Quando acordei, pensei ainda estava escuro, foi difícil, mas despertei. Comi duas maçãs, tomei um banho, vesti a roupa, pus o fone no ouvido e liguei a rádio e sai pra faculdade. Sol não nascera ainda, a lua ainda era iluminada pelas luzes dos postes. Pego minha bicicleta e sigo pedalando pelas ruas frias. Segui dia adentro. Nesse dia nada de diferente aconteceu, mas ouvi uma palestra de Pondé sobre pósmodernismo. Ele falou sobre o livro Admirável mundo novo. Fui a biblioteca, procurei, quase desisti, vi uma coleção do Proust quase peguei, mas fui insistente e achei. Quantos livros tenho pra ler? Quanto desejo de aprender. Bem peguei o livro. Foi o mais emocionate do dia.
Que passou lento como uma tartaruga.
Travessuras do tempo
O tempo eterno viajante constrói e consome a matéria. A matéria viva que nos constitui está em constante metamorfose e são e estas que expressam quem somos, nossas origens. Fico abismado quando me vejo no espelho. As marcas do tempo são expressas em linhas sutis ou na ausência de algo que muito povoou minha cabeça. São tão tantas as memórias, estas denunciam meu tempo vivido. Memórias que denunciam o meu ser, uma trajetória que deixei por onde passei. Estas não só me pertencem, mas que as tem também muitas vezes não lhes interessam quase sempre são só nossas. Somos extremamente egoístas. O nosso mundo gira entorno de nos mesmos. Posso ver nos lugares onde passei imagens do que vivi, detalhes que só eu percebi. Meu mundo subjetivo tão meu, jamais prospectado por ninguém, coisas que não interessam a ninguém. Afinal o mundo que absorvi é aquele que processo, expresso e sou. Minha essência, alma e vida. Acho que só o tempo e a matéria podem me decifrar. Por isso viajo com o tempo. Um dia pararei de viajar, mas o tempo é eterno viajante.
oração
Vale a pena
parar para pensar,
parar para orar,
a vida é efêmera e nem todos os sonhos requerem de ti todo seu sangue para se realizar.
As vezes não se beneficia deste sonho, mas só se desgasta como ser.
Portanto pelo menos uma vez, para e reflete.
No âmago de tua alma encontra teu melhor, tua essência.
Sob o calor do sol ora,
sob o frio do inverno ora.
Pois é ai que encontra tua essência dentro de ti.
O deus que habita em ti aflora quando refletes sobre a vida.
Ler uma poesia.
vive a vida.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Banquete dos cururus
Ah, tudo mudou lá em casa quando chegou a eletricidade. Não só para nós humanos, mas também para os sapos cururus. Eis que a luz, aquela luz clara, acesa no terreiro trouxe fartura para os cururus. Os sapos cururus, mais parecem pedras vivas com seu aspecto verruncoso, durante o verão entram em estado de estivação, ou seja, seu metabolismo reduz ao máximo possível durante longos períodos de estiagem a luminosidade e calor são tão intensos que se estes animais permanecessem expostos, chegariam desidratar até a morte. As chuvas traziam uma explosão de vida naquele lugar. Era a melhor coisa coisa que podíamos vivenciar, uma explosão de alegria, sentir o cheiro da chuva, pingo a pingo molhando o chão, as telhas e escoando, a bica chiando, quase sorrindo enchendo a cisterna. Essas águas seguiam a gravidade molhando os terreiros, desciam estrada abaixo, umedecendo o ar. Ao sentir a umidade os cururus despertavam de sono, semelhantes a múmias, amarelos ou pálidos, parecendo só ter olhos. As vezes apareciam do nada amedrontando as galinhas. Saiam de suas tocas, buracos famintos. Eis que ocorria uma explosão de vida surgem larvas de insetos e insetos adultos voam desesperados em busca do sul artificial. Aquela maravilha branca, vinda do céu, deu aos sapos um novo habitat. Sim os sapos aprenderam que no terreiro de minha casa a comida era farta, insetos aos milhares. Não precisaram mais se deslocar tanto, bastava ficar ali parado, logo caia uma presa bem em sua frente. Lepo com a língua longa, mais um, mais um. Dentro de pouco tempo os cururus ficavam gordos. E logo que as chuvas intensificavam era época de festa, sim orgias, sapos e sapas iam para os lagos copular, numa cantarola que fazia inveja a qualquer Reive. Eles estavam felizes e nós também porque bom inverno é sinal de fartura. Então no fim do dia cansado. Adorava sentar na calçada de minha casa. Pra ver os Cucurus forragear, como as estrelas no fim da tarde começava a aparecer no céu, os sapos começavam a aparecer no nosso terreiro, um, dois... Era a melhor coisa que achava ver os sapos gordos, a luz atraindo os insetos, o céu estrelado. A tecnologia facilitou a vida de todos nós homens, sapos e insetos. Aquela vida simples com horizonte que não passava do outro lado da estrada, fazia-me muito feliz, cheio de fé e amor a natureza aos sapos cururus.
Flores da vovó
Saborear
Quando era pequeno, a coisa que mais gostava na casa de minha avô Chiquinha, sem dúvida alguma, era o jardim de sua casa. No jardim tinha um pequeno pomar. Tinha também muitas carnaubeiras, acho uma planta linda. Aquela casa era muito grande, branca, Tinha quatro portas, o normal pra mim, era ter dias, tinha duas a mais; as telhas eram velhas e as linhas tinha cupim, tinha medo, achava inseguro aquilo. Era uma casa tipicamente portuguesa, paredes largas, portas enormes pintadas de azul. A frente ficava para o sul, a cozinha pro norte, no poente tinha uma varanda, que tinha um peituri muito legal, bem menor que o peituri de minha casa, eu me sentia grande ali, gostava dessa sensação de me sentir grande, a varanda era divida parte num peituri e parte num tanque grande. O chão era ensimentado, com uns ornamentos em forma geométrica, não tinha isso em minha casa, tudo que não tinha em minha casa me era estranho. Na sala de entrada, tinham cadeiras de balanço, várias, eu adorava essas cadeiras porque além de dar para balançar ainda eram confortáveis. Tinha uma foto de papai quando ainda era muito moço, sim aquela com um homem diferente pra mim. Papai tirara em São Paulo, nessa foto papai estava de bigode, nunca vi papai de bigode senão naquela moldura. E fotos do casal de avós, tinha também muitas fotos de santos. Na sala tinha um quarto onde guardava coisas de valor, na ante sala tinha um oratório, adorava ver aquele oratório, pintado de azul, enfeitado com umas fitas vermelhas. Dentro do oratório tinha imagens de São Francisco ou santo Antônio, não lembro direito, mas gostava do fato de poder abri-lo. Tinha uma mesa que ninguém nunca usava, era engraçado ter uma janela de que abria na sala de entrada. E uma cristaleira com a foto de minha prima Cristiane que morava em Brasília, adorava ver aquela foto. As cristaleiras eram objetos importantes, onde guadava a loça que só era usada em datas muito especiais. Tinha uma sala onde ficava o fogão a gás e a pratileira com vasilhas de alumínio, tinha que ter um tripé, que também abrigava vasilhas de alumínio, na vasilha de cima, as vezes guardava-se doces. E finalmente a cozinha com um fogão a lenha, pintado com tinta xadrez. No caso do fogão da casa da vovó era enorme, tinha uma gaiola com um golinha muito cantador. Eu queria uma ave como aquela, cantadeira. Gostava do café que ela sempre fazia, era sempre acompanhado por bolacha seca, adorava bolacha seca. Tinha um girau na cozinha e uma esteira. Na cozinha de vó não tinha mesa a comida era colocada sobre uma esteira feita de palha de carnaúba. No almoço punha o feijão com caldo, depois que tomava o caldo, colocava a farinha e mexia com o feijão. Em seguida vinha o arroz e um naco de carne. A sobremesa era rapadura ou doce. Os almoços na casa da vô eram sempre mais cedo. Na casa da vovô o benheiro era de palha de coqueiro, não tinha banheiro de alvenaria. ficava do lado do quintal. Quando chegava gostava de ver um per de pimenta no terreiro da cozinha. Além disso tinha uma horta sem faxina, achava estranho, pois lá em casa se tivesse uma horta sem faxina as galinhas comiam todo o coentro e a alface. Lá não acontecia isso, pois a horta era alta. Fransquim quem colocava água pra regar a horta, as vezes era Francisco. Junto da horta tinha um pé de romã, sempre queria comer uma romã, mas parece que elas nunca amadureciam. Nos terreiros de vovó tinha plantas de cheiro, como boldo e endro, erva doce para quem não conhece, gostava de mascar as folhas de endro, eram docinhas. Vovó tinha uma roseira branca. Nunca esqueci, um dia em que estava na casa dela e umas crianças vieram pedir umas rosas pra enfeitar um anjo, não sabia o que era anjo, eram crianças que morriam. Foi triste descobrir isso. Mas a casa de vovô era doce, tinha uma baixa de cana e vários pés de laranja. Quando era pequeno adorava a casa da vovó, as plantas que tinham lá eram mágica, pois eram doces e não tinham na minha casa.
Amanhecer
Amanhece, paulatinamente o sol vem vindo, aquele friozinho gelado implora pra não sairmos da cama, mas as aves convidativas, os sabiás, roxinós, doidelas, bentivis e muitos outros nos convidam pra ver o sol nascer. Quando abrimos a porta, já vemos aurora no nascente, a luz vai se espalhando pelo mundo, recolhendo o frio. Vem a minha mente as manhãs em minha casa. Manhãs ao som da passarada, do canto do galo, guiné, do relincho do jegue, mugido do gado. A manhã radiante nascia e continua nascer em qualquer lugar. A manhã é bela, elegante e cativante.
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