quinta-feira, 2 de abril de 2020

1. Coruja

O silêncio escuro da noite envolve os que tem sono e sufocam os que tem dor.
A noite quando pássaros dormem
Estão despertas as corujas
Que conseguem ver além das sombras.
Não somos corujas,
Mas bem que poderíamos aprender com estas a se orientar no escuro.

58. Memórias

A voz poucas coisas se guarda na memória mais que o timbre de uma voz.
Deitado ouço a voz dos queridos partidos.
Lembrança dos avós, tios e amigos.
Sei lá.
Nesse período de isolamento a gente pensa
Em cada coisa.

57. Voz

Penso que a voz é uma das maiores fontes de aprendizagem e rememoração.
A gente ouve em nossa mente a voz dos que partiram.
Ouço minhas avós, meus amigos.
Tudo em minha mente.
Como um eco.
Mas, bem.
Certo ano estava em Belo Horizonte num congresso.
Dai sai para visitar o museu da Vale.
Aquele prédio lindo, elegante e barroco.
Deixou-me encantado.
Mais encantado ainda fiquei quando entrei em seus átrios.
Aquela voz doce declamando poemas belos.
Espere!
Era a voz de Drummond!
A voz de Drummond.
Fez-me voltar a época da escola.
Momento de sua morte foi lamentado pela professora de português Genilda.
Fiquei ali.
Parado entre o passado e o presente.
Minha mente fugia para o passado
E os sentidos para o presente.
Fiquei ali contemplando.
A partir da voz de Drummond me senti mais próximo de sua obra,
Me senti mais eu.
Que orgulho de nosso pais, nossa poesia.

56. Consciência

Madrugada escura, parcialmente nublada.
Estrelas ofuscadas.
Canto da corruíra,
Sobre os paralelepípedos de xisto ou gnaisse,
Vou caminhando e pensando em tudo e em nada.
A gente costuma se perder quando pensa em tudo.
A cada passo que se dá uma nova imagem,
Um novo estímulo,
Um novo pensamento.
Então caminho sem parar
Por alguns quilômetros,
Tempo que penso sem parar.
Caos e cosmos me preenchem.
Penso no que vejo e ouço.
Aves, árvores...
Um pouco do externo e do interno.
Formando uma consciência...

quarta-feira, 1 de abril de 2020

55. Décimo segundo

Em casa, nesta quarentena a quase duas semanas.
Só saímos para caminhar ou para ir ao mercado.
As ruas vazias, sem movimento de pessoas.
Só ouço os carros passarem.
E o canto das aves.
Aves cantando.

54. Caos mental

A gente acorda,
Tudo está como esteve,
O que mudou foi o tempo,
De noite para manhã e de manhã para tarde.
As coisas iguais,
Silêncio,
Ruas vazias,
Nossas sensações continuam as mesmas
Fome, sono, disposição, alegria, tristeza.
E as coisas por serem resolvidas,
O mundo lá fora.
Como a gente trata essas informações!
Como fica nossa cabeça.
Em caos.
Um caos impensado por Pessoa ou Borges ou Gogh ou mesmo por mim.
E os minutos e horas vão se passando,
Dias...
Semanas!
Que loucura.
É a humanidade agindo de forma coordenada.
E nós indivíduos ficamos desnorteados.

53. Pios e cantos

O pio de bem-ti-vi se ouve de longe.
Lá no fundo canta a patativa,
No telhado da casa do lado o pardal.
No meio termo a corruíra.
No fio chirlia a siriri,
A passarada faz minha alegria matinal,
Feito som de poesia num sarau.

terça-feira, 31 de março de 2020

52. Garrinchão-de-barriga-vermelha

Ontem, durante a caminhada na madrugada, ouvi o canto lindo de um pássaro.
Estava no início das Três ruas, quando o ouvi cantar.
Deveras, que coisa linda.
E o mais mágico, não conhecia.
Refletir como iria conhecê-lo.
Passou.
Hoje a noite usando o Merlin um aplicativo para aves.
Eis que reconheci o canto e desvendei o grande mistério.
Trata-se de um garrinchão-de-barriga-vermelha.
Vou dormir feliz por essa informação.
É isso. 

51. Andorinha

Andorinha
Voa andorinha,
Voa seu vôo ágil e rápido.
Voa pra lá e pra cá.
Pra cima e pra baixo.
Com seu esmoque azul marinho e alvo,
Saboreia insetos nessa dança a voar.
Toda manhã as ouço vocalizar,
A voar, a voar.

50. Silêncio matinal

O silêncio quebrado pelo canto das aves alegra a manhã,
Andorinhas, sanhaçus, sanhaçus-de-coqueiro, patativas,
Gaviões a espreita, beija-flores e bem-ti-vis.
Ouço tudo aqui, sentado.
Este corpo pensante,
Desejoso de uma definição.
Não consegue entender estes cantos,
Vive, assim por viver.

Despedida infinito e eterno

 A casa A casa que morei Onde mais vivi, Papai quem a construiu, Alí uma flor mamãe plantou, Ali vivi os dias mais plenos de minha vida, Min...

Gogh

Gogh