Desde quando a lua me encanta
Já quando criança a lua me encantava. Morava num povoado pequeno sem eletricidade. As noites eram escuras alumiadas pela queima do querosene em lamparinas ou lâmpadas a gás. Todo mundo comprava aquelas latas de 18 litros de querosene e uma ou duas vezes na semana havia um ritual de alimentar as lamparinas com aquele líquido mágico. Lá ia papai ao armazém com as lamparinas carregar as lamparinas. Tínhamos que tomar banho antes do sol se pôr. Então, depois da janta, um fósforo acendia as lamparinas. Muitas vezes, saímos para as casas dos vizinhos para conversar e disparecer. Naquele tempo sabíamos conversar, narrar histórias, fazer as bocas de noite, não eramos meros telespectadores. Mas muitas vezes as histórias de adulto não eram tão interessantes. Gostava das histórias de caça e pesca, mas como papai nunca caçou ou pescou, quando a conversa estava ficando boa, nós íamos embora. Papai adorava viajar, e quase ninguém ali, conhecera São Paulo, Rio ou Salvador. Papai ficava em desvantagem.
Eis que uma vez por mês tínhamos a lua cheia. A nossa lua cheia nascia ou na terra de Chico de Vicente de Joana atrás do sítio de cajueiro e bem em cima de uma carnaubeira ou na terra de Zezinho de Luiz atrás de uma maloca antiga de coqueiros catolés. Ela surgia grande imperiosa, ofuscando o brilho das milhares de estrelas que brilhavam no nosso terreiro.
A lua era fornalha de cor forte no início, no entanto vai perdendo a intensidade da cor e fica mais clara. Logo que se estabilizava, depois do memento de contemplação, depois que chegávamos na casa de boca de noite ou depois que recebíamos as visitas a festa começava. Eram gritos de alegria na escolha das brincadeiras, a minha favorita era cai no poço, mas tínhamos muitas e uma noite alumiada pela lua e pelo tempo. "Como eram felizes aquelas noites". Passado o tempo, tomado o café, chegada a hora. As brincadeiras acabavam, nós cansados ficávamos quietos, cansados, e assim depois de um até amanhã, ou íamos dormir ou voltávamos para casa. Como era pequeno, papai muitas vezes me levava no tuntun, sobre os ombros. E voltava cansado, caminhando devagar. Papai resumia as conversas com a mamãe. Eu ouvia o que eles falava e contemplava a lua.
Sentia-me seguro no seio de minha família e sob a lua cheia.