Tiveram muitas coisas que marcaram minha vida, coisas boas e coisas ruins. Conheci a morte, quando era morto, conheci um corpo morto. Este cheirava a jasmim ou a rosa, leite de rosa, um desodorante barato, rosas de graça. Lembro ainda quando vi pela primeira vez um caixão, cheirava a jasmim ou perfume alma de flor. Não foi uma boa sensação pois conheci o choro da dor. Meu corpo estremeceu quando vi meu pai chorar, Raimunda era a mulher de meu tio Raimundo Souza. Vi pela primeira vez meus pais chorarem. Vi um corpo imóvel e frio sobre um caixão geométrico de pano. Desde aquele dia passei a ter medo de jasmim. Medo da morte que desconhecia. Algumas vezes a tarde saia correndo com medo de pensar na morte de meus pais. A morte eu desconhecia, mas sabia que era o fim. Tomei um medo do jasmim. Geralmente quando ia brincar e se visse um pé de jasmim, corria com medo. Medo da morte, pois a morte cheirava a jasmim. Minha tia Margarida morreu de câncer sei lá de quê não a conheci, só conheci meu primo filho dela que meus avós criaram. Ainda lembro que via meu pai fazendo a barba, ainda era pequeno. Via ele fazendo e sabia onde ele colocava o aparelho e as giletes, certo dia mamãe estava dormindo como não tinha barba, resolvi fazer o cabelo, não sei o que fiz só sei que pelei parte da cabeça. A noite fomos visitar minha tia Raimunda que estava doente de câncer de mama, lembro que ela estava num quarto escuro, lembro da chama da lamparina. Falando com minha mãe como tinha acontecido aquilo. Ela faleceu, não tenho lembranças dela viva, só do zumbido dela. Depois que ela morreu fomos lá na casa dela acho que Zé Maria seu filho ainda morava lá. Me era indiferente, pois acho que fiquei em casa. Foi fiquei lá na casa de Eliene, mamãe comprou uma garrafa de guaraná pra poder ficar lá. Talvez isso seja uma construção de minha mente, mas pode ser verdade. Lembro quando meu primeiro avó faleceu. Foi em 1988, meu já estava na escola. A professora Livani quem me falou, ou ouvi ela falando com alguém. Lembro que vi papai chegando em casa de taxi, um chevette amarelo, ele chegou chorando, abraçou minha mãe pegou umas roupas e foi pra maternidade ou pra casa de minha avó. Acho que nesta noite dormimos na casa de minha prima Neuza. No dia seguinte foi com bolinha na moto nova dele. Vi aquele carro de carregar difuntos. Vi meu avó frio sobre o cachão com quatro velas acesas. E o carro de carregar defuntos no terreiro. Foi do doado pelo prefeito Manuel Barreto de Medeiros. Bem o caixão de meu avó muito pobre era de pano, começçou até a rasgar quando estava na igreja. Foi uma tristeza, uma dor tão grande, vi meu tio Aldo chorando, todo mundo chorando. Depois daquele enterro, foi a muitos enterros e vi muitos mortos, mas não fui mais a nenhum enterro de meus outros avós. Vô Zé morreu em dia 3 de janeiro de 1993, vô Chiquinha em outubro de 1995, poucos dias depois da morte de Jailton. Lembro que era um sábado tinha colocado água a tarde, o que estranhei foi que a tarde quando colocava água uma galinha se apuleirou, achei esquisito comentei com mamãe. Era mau presságio pra nós galo cantar a noite. Bem lembro que estavamos dormindo quando Fransquim veio chorando lá em casa, no carro de Luizão bateu na porta a noite chorando e falou De Assis mãe foi pra maternindade, não resistiu e morreu. Mãe respondeu não diga e começou a chorar, me chamou pra ir com ela e eu não fui. Eu fui um fraco não fui. Pai estava em São Paulo e não pode ir ao velório. Vô era muito religiosa, depois que vô morreu ela chorava todas as vezes que iamos pra lá. Dizia que nunca se acostumava com a perda. Ela se enterrou com uma mortalha de São Francisco. Ela mesmo fez o cordão da mortalha. Vô Zé não sofreu adoeceu a tarde e faleceu na madrugada, lembro que vi meu primo passando na moto de Tio Jussieu, não tive coragem de ver mamãe chorando. Não fui ao velório. E quando vô Sinhá morreu eu não estava lá, já estava aqui.
Sei que essa história é muito triste, talvez nem tenha chegado aqui. Mas a vida é assim tem seu lado alegre e seu lado triste. A terra consumirá todos nós.