sábado, 20 de novembro de 2010

Escuro da noite

O escuro da noite fria,
enche o vazio de meu quarto,
negra noite cela meus olhos,
minha alma se cala,
matuta, vaga.

O silêncio escuro da noite,
posso inspirá-lo e expirá-lo,
divaga minha alma nos sonhos.

No silêncio escuro da noite,
absorve as cores, oculta as formas,
Meu corpo entende a noite,
pois percebo no silêncio da noite,
que sem luz, de que vale a estética.

O silêncio escuro da noite,
desvenda o meu lado oculto,
acende como brasa o meu corpo,

Posso tocar no silêncio da noite,
posso cheirar o silêncio da noite,
me guia,
percebo as formas, as curvas, nuances.
No escuro da noite sinto as formas,
sinto os gostos, os cheiros, e sabores

Meu corpo ignora o escuro da noite,
que corpo quebra o silêncio escuro da noite,
sinto as formas, sinto o gosto, os sabores,

sinto a consistência no escuro,
A noite tem consistência de veludo.

Apague a luz, sinta o escuro invadindo sua alma.
Dois corpos, agora apague a luz,
sinta no escuro da noite o outro,

toque os cabelos, sinta as curvas,
sinta a pele, o cheiro.
Sinta o silêncio da noite,

sinta o corpo, invada o outro e sendo invadido,
doe e receba,
a luz... de que adianta a luz?

Sinta o calor das artérias pulsando,
corpos com carne latejando,
exaurindo suas forças, suando,

corpos se desejando, se consumindo,
na escuro da alcova,

o silêncio da noite vence e domina,
dois corpos se rendem,
se doam ao silêncio escuro da noite,
onde tudo é nada,
onde os instintos falam mais alto,
e a alma se cala,
e contempla a noite.
Quem sabe uma concepção!

o Flamboiã

Chamam minha atenção,
a beleza do flamboiã,
flores encarnada,
ou cremada,
que linda árvore espalmada,
quanta delicadeza,
em suas folhas,
quanta beleza,
que lindo é o flamboiã.

belas suas formas,
seus cachos,
sem aroma,
mas belos encarnado,
deixa o chão enarnado,
de pétalas,
enfeita os seios
das mulheres
suas semente,

oh flamboiã
sedes tão belo.
como o por do sol.

vai amor

E o meu amor se vai,
vai meu amor,
partes sem dor,
meu amor chega e já sai.

Ontem a noite não senti seu odor,
seu corpo macio,ou seu calor,
está ruim, sem ti mas ai,
a vida cigana com tanta cor,

esta levando de mim o sabor,
de teus beijos cai,
como cai,
o meu ser em torpor.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Companheira


O lua majestosa,
quantas histórias ocultas,
o lua gloriosa,
que cativas o amor,
o lua pomposa,
aprendi a contemplar-te,

pois lua, lua,
que ocultas na outra face escura?
amor, frio ou dor.

Lua segues sempre o teu curso,
ocultas uma face,
oculta-se quando nova,
e crescente tímida aparece,
plenilúneo clareia,

Lua, lua
que ocultas de mim,
desvenda tua persona.

Ocultas tristeza?
sedes sempre pálida e fria,
mas sempre sedutora,

que me contas o lua,
conta tuas histórias,
me faz dormir em teu colo,
porque a vida,
está me cobrando caro,

E hoje só tenho a ti,
somente a ti pra me abrir,
abrir meu coração,
falar de minha paixão,
oh lua,

tu me segues vida a fora,
a qualquer hora,
clareará o meu jazigo
e me seguirá eternamente.

Minha poesia

Como tudo na vida!

As minhas poesias, são quadros que pinto com palavras,
consumo-as quando estou fazendo,
depois guardo, ou simplesmente esqueço.
no papel ou na nuvem internet.

Poesias são horas de contemplação de mim mesmo,
do mundo, de tudo e de nada.
São uma forma de fugir da vida.
Meu refúgio, morada de minha alma,

que vive encantada,
com a beleza da vida,
com a beleza do mundo.

Pinto a beleza,
pois sei que a natureza,
é competitiva.

A vida é um mar de dor,
somos felizes por instantes,
enquanto esquecemos quem somos,
da nossa condição humano finita.

O medo é eminente,
tudo nos apavora,
a vida competitiva,
é muito agressiva,
desumaniza o ser.

E só quando esquecemos que vivemos,
somos felizes,
quando sorrimos,
do outro, nos livramos de nosso próprio ser,

as vezes somos sádicos,
somos egoístas,
não aceitamos essa condição,
não sei se ainda bem,

mas não ponho em minhas poesias,
tais misturas, não quero uma poesia bonita,
com emoção, mesmo que seja esquisita,
mas que faça bem,
consuma minha poesia,
e sinta minha alegria,
é repleta de magia,
ou simplesmente é,
pela condição que a concebi,

muitas vezes minha concepção,
não é lá essas coisas,
mas é assim,
que vejo o mundo e a vida,

por aqui podes olhar
através de meu pensar.
depois de usar,
podes guardar ou simplesmente deletar.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sello Suites 6

Quanta habilidade,
chega a ser mágico,
de tão belo.
Tu que tocas o violocelo,
com tamanha agilidade,
profundidade e velocidade
interpreta as notas,
faz soar uma, duas, três notas,
uma música,
fecha os olhos para ouvir,
a música que está dentro de ti,
quanta melodia,
quanta harmonia,
vai além da poesia,
me enche de alegria,
entro em extasia.
Paro ouço, mais uma vez,
outra e mais outra,
é tão bela a melodia,
que encurta o tempo,
me ludibria,
não saberia descrever o que sinto,
porque me sinto pleno
quando ouço Sello Suites de Bach.

Alma

É chegada a noite,
o cansaço vence o corpo,
e a alma cansada,
que viajar,
quer vagar,
pelos sonhos,
pelas estrelas,
nas asas de um morcego,
de uma coruja,
não importa quer do corpo
se libertar.
Alma vagabunda,
quer deixar as ideias,
como pode ser tão egoísta?
Como não tem quem juge-a,
fuja, vai noite adentro, mas não esqueça de voltar,
antes do sol raiar.

Ser

Descobri tarde que a vida é bela,
podia vivido muito intensamente,
cada instante que me foi dado,
mas buscava entender como tudo se passava,
como numa busca pelo sentido.
A vida por si tem sentido, mas era metido,
queria sempre mais,
adorava esta com minha família,
porém queria mais e mais.
Vivia aqueles instantes com muito carinho,
mais achava que estava aquém do que queria,
do que esperava,
o tempo passou e nunca encontrei o mais,
nunca estive completamente presente,
em minha vida, vivia no futuro,
mas hoje descobri algo,
descobri que era no passado que era feliz,
perdi todas expectativas do futuro e olho pro passado,
cada momento bom. Ahhh.
Mas quantos não já partiram,
pra longe, pra outra vida,
fomos cúmplices nos risos,
nos gestos no viver.
Agora descobri que na vida o que importa é o presente.
Vi muita gente dizer isso,
Li santo Agostinho, mas nada adiantou.
A vida tem seu tempo, enquanto não vivenciamos,
não experimentamos, o que sabemos.
Somos seres empíricos, não usamos muito da razão.
Aprendemos com a emoção.
Mas essa forma de apreensão nos custa muito caro.
Custa tempo e sofrimento, custa dor, solidão,
trabalho.
Não sabemos renunciar, enquanto não transformamos em razão
toda a emoção vivida.
Os caminhos da vida são muito curvos,
talvez sigamos em espiral,
talvez quem sabe sigamos a concha do tempo.
Onde partimos de um ponto e nossos
horizontes vão se ampliando.
Parece que estamos vivendo tudo novamente,
mas estamos mesmo é seguindo em espiral,
na espiral do tempo.
Tomamos consciência de nossa existência,
de pessoas como seres, de nossas obrigações e
suspiramos podia ser diferente.
Mas no momento que tomamos conhecimento das consequências de nossos atos,
no momento que projetamos nossos desejos,
a vida perdeu do doce o puro sabor,
da beleza a pureza,
da alegria a ousadia.
Descobrimos que nossa pele,
está enrugando, os cabelos falhando ou clareando,
nossos risos não são tão belos e brancos,
vemos no outro nossa imagem,
aceitamos os valores,
nos dobramos a idade, ao corpo,
nosso espírito, no entanto cada dia tem mais vigor,
compreende o amor.
É a vida passa, para todos.
Se não renovarmos nossos genes,
se não tivermos nossos filhos.
O que será de nós?
O que será de nós. Nos apegamos a objetos,
a animais.
Vamos envelhecendo por dentro,
vamos ficando mufinos e tristes até que a morte
vem como uma benção.
Certo dia em um velório, de um amigo de meu pai,
ele falou que todos partem, chega a hora que a vida perde a graça a magia.
Em uma entrevista perguntaram a Clarice Lispecto o que ela acharia de viver o ano 2000,
com sua voz bela, respondeu que não queria está presente,
já que seus amigos mais queridos não estariam presente.
A matéria se dobra, já não quer mais o espírito.
O fim de todos, aqueles que viveram todas as fazes da vida,
nasceram, cresceram, amaram, se reproduziram, envelheceram e sofreram
é a maior benção,
ganham da vida toda experiência e reflexão,
e tem na morte compaixão e respeito pelo ser.

Aurora

Aurora,

No nascente a frente de minha casa,
quantos dias não vi a ti aurora,
encarnada, embrasada,
surgias endeusada,
anunciando a chegada de apolo,
quebrava a hegemonia da noite,
despontava inebriada de sono,
mas sempre vinha,
vinha guiada pela pela dalva,
pela lua...
Tu trazias a bruma da manhã,
vinha roubar-me a cama,
despertar meus sonhos,
ao canto da passarada,
despertava, tu me acordavas,
e te contemplar era tão bom.

Mas o tempo passa,
muita coisa perde a graça,
a vida segue ao som do vento.

Na concha do tempo,
soam as doces memórias,
de perdas e vitórias,
cantadas a ti.
Aurora, não demora,
que já morro de saudades
de mirar-te, amar-te.

em teu ruivo olhar,
contemplar,
viajar eternamente,
e me deixar,
sempre a ti esperar.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Betha

Já na adolescência sonhava, acreditava em tudo, amavaa vida, minha cidade, minha casa.
Casa no campo, cheia de irmãs mais parecia um convento. Minha casa tinha alegria, mamãe com suas gargalhadas e papai com riso cínico. Aquela cidade que era tão grande, fui descobrindo seus cantos, esquinas, prédios, então fui me acostumando. Aquilo foi me incomodando, ficando pequeno pra mim. Não tinha jornal, revista a comunicação só via rádio ou televisão. Os filhos de Toinho da farmácia compravam vez por outra uma superinteressante onde encontre um endereço. Bethânia Emeric Biologia UFES contato para trocar informação e o endereço. Vi aquele endereço, aquele nome pensei vou ampliar meus horizontes. Peguei um papel uma caneta e escrevi, puz a carta no correio, pequeno. O carteiro Chiquinho de Raimundo Moura um cara sério, sisudo, fechado. Na falta de padre ele que fazia o sermão da missa. Mamãe e papai dizia que ele pregava bem. Mas não sei não mais parecia um touro enfurecido, na hora da celebração baixava a cabeça e tome falação. Falava, reclamava aquilo era que era moral, acho que ainda é assim se o padre de Dedin já não tenha ocupado o cargo, mas isso é outra história. Tempos depois recebi a primeira carta, simples mas cheia de carinho veio com uma foto três por quatro. Trocamos muitas cartas, certa vez me falou de um que gostava de répteis eu não gostava muito de répteis gostava, mas preferia os insetos com suas várias classes e várias ordens. Falei pra ela que as vezes comiamos teiu. Ela falou que era uma espécie de Ameiva ameiva, , mas acho que com a filogenia e cladístca deve ter mudado de gênero sei lá, não entendo de bicho nem inseto.
Entendo mesmo é de mato, botânica, Botané do grego pasto é isso ai ganho a vida dando nome a planta, coisa mais besta diria Zezeu que certa vez perguntou o que fazia e eu respondi que fazia biologia, não gostei do que ele falou disse que não dava dinheiro que devia ter feio farmácia, direito ou medicina. Fiquei com raiva eu e todos os biólogos do Brasil. Fiz biologia porque amo a vida amo os mistérios do deus que ele adorava. Enfim o tempo passou e como passou. Minha amiga de cartas sumiu. Passei no vestibular em biologia influência de quem? Betha. Um dia criei um email e a encontrei novamente só que pra minha tristeza ela foi estudar línguas. Foi para a Europa e voltou bancária. Hoje casou e vive com seu esposo e eu ralo pra terminar o doutorado.
A vida é assim, cada um segue seus sonhos, seus rumos, suas intuições.

Descanso

Os pingos da chuva,
esfacelaram o silêncio da noite,
gota a gota,
pingo a pingo,
molharam a rua,
as folhas das árvores.

O som orquestrando,
a noite adentro,
o sono chegando,
o corpo cedendo,
em cansaço,
um abraço,
do escuro,
enfim o descanso,
a paz da noite.

A vida anda tão atarefada.

Manha de chuva

A chuva caiu,
e logo partiu,
o silêncio ficou,
o céu abriu,
o sol brilhou,
sua luz refletiu,
nas folhas espelhadas,
de um véu de água,
aos poucos, se desfazia,
e gotas cristalinas,
que deixavam-se cair,
se desmanchar.

o lago espelhado,
refletia a beleza,
o verde da natureza,
uma gota caiu,
e o espelho,
ondulou,
silenciosa,
a manhã partiu.

O saber




Ver, crer,
pensar,
pesquisar,
Ler e reler,
analisar,
repensar,
concluir,
duvidar,
escrever
divagar,
Aprender,
apreender,
perguntar,
analisar,
divagar.
por fim,
explicar,
saciar o ser.

Ciência,
razão,
religião,

o mundo,
os pais,
os amigos,
os vizinhos,
o mundo.

o tempo,
o vento,

experiência
é a soma de tudo,
o saber é ilimidado,
mas nos deixa saciado.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Retorno

O retorno da viagem

Quando cheguei em casa,
de uma longa viagem,
ah, quanta coisa diferente,
as portas e janelas,
não eram as mesmas,
o terreiro, ainda estava varrido,
mamãe não larga a mania,
mas percebi que estava menor.

Fui chegando devagar,
olhei o quintal estava vazio,
olhei a porta estava fechada,
vi alí na área as velhas cadeiras de balanço,
onde passei tardes fagueiras a ler e cochilar,
tinha cordas novas,
mas ainda estava lá onde eu lia,

dois cães vieram me receber,
não me conheciam,
mas mesmo assim me pediam carícias,
sentiam no meu cheiro, o cheiro de meus pais.

Chequei ali,
abri o portão,
a porta estava fechada,
sentei-me na cadeira no escuro,
de certo mamãe saiu pra passear,

e fiquei ali matutando,
pelo tempo que passei,
por onde viajei,
e de volta a casa,

fiquei ali contemplando o escuro,
voltei pra casa,
quanto viajei,
e eu agora de volta.

pouco tempo depois,
meu pai apareceu na estrada,
andando apressado,
com seu andar arrastado,

dei voz de vida,
mamãe vinha atrás,
com suas pernas arqueadas,
com lenço no cabelo,
soltando um canto,
peculiar,
só a insenar,
pai chegou,
me abraçou a sorri,
depois foi mamãe,

perguntou-me sobre a viagem,
sobre o mundo,
abriu a porta,
acendeu as luzes,
esquentou minha comida,

conversamos noite a dentro,
mamãe foi dormir e ficou a reclamar,
que fossemos dormir,
mas ficamos ali,
a conversar.

Então apresentado o velho quarto,
pai foi dormir,
em pouco começou a roncar,
e fiquei ali a contemplar,
o teto que tanto me abirgou,
senti o conforto e o amor,
senti que a vida valia a pena,
senti o verdadeiro amor,
dormi plenamente naquela noite.

A volta

A volta pra casa

A volta pra casa,
que desejo maravilhoso,
o corpo fica ansioso,
palpita o estômago nervoso.

A volta pra casa,
enche de euforia,
há uma certa magia,
beira a fantasia,

A volta pra casa,
há aquela saudade,
com um que de ansiedade,
o corpo todo sorri.

A volta pra casa,
a chegada, os abraços,
os sorrisos.

De volta pra casa,
os beijos, os afagos,
a comida quentinha,
a cama macia,

de volta pra casa,
nos sentimos mais amandos,
estamos aconchegados,
e sossegados,

plenos nos sentimos.

A fome

A fome

Quando cai a última folha,
pobre sem escolha,
segue adiante,
deixa o sertão,
esquece o lampião,
e segue em busca de um trabalho,
algum quebra galho,
gente que larga a terra natal,
e segue o desconhecido.

A fome assola,
o sol tinge a pele,
a reza consola,

a sede engrandece,
os pés rachados,
dos dias ensolarados,

cansado o pai fala,
vamos adiante,
sorri para os filhos,

canta a cigarra,
na velha a marra,
farinha e rapadura,
é a vida é dura,

mais um terço rezado,
a fome aumenta,
Ai deus quanta dor.

Enfim uma casa,
enfim gente,
quando que sacia a sede,
cede uma rede,
pernoita e segue,
o destino errante,
a vida provocante,
desbrenha o destino,

e segue,
vida adentro,
viver é sofrer,
mas a esperança,
é arma,
a reza um apego
a vida.

Tarde sem chá

O dia nublado,
dia que o vento suave invade a janela,
vem bem em nossa espinha e tira um arrepio,
a tarde silêncio.
Aproveito para ouvir Shumann.
Que delícia de som,
quanta harmonia.

Lá fora as plantas parecem dormir,
nem uma folha se mexe,
grita uma ave, aculá longe,
tão longe quanto minhas idéias,
desfiam pensamentos,
viagens,
a vida ganha potência como uma semente em solo fértil,
depois de um cochilo,
a vida seque ao sabor do vento.

O cajá

Na noite escura,
as estrelas piscavam,
a bruma ia e vinha,
numa frescura,

caminhando na areia fria,
os pés tocam finos grãos,
no fim das chuvas,

o cajazeiro está que é só fruto,
os frutos maduros exalam um cheiro
ácido doce, que perfuma o corredor,

sempre seguindo,
ponho a sandália,

e sigo noite adentro,
fitando as estrelas,
os meteoritos,
papai, mamãe,
o burro, minhas irmãs
e o cachorro,
vamos para o seio
de casa,

naquela noite,
dormimos em paz.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Nascimento

Foi numa noite escura que nasci,
nasci para o mundo, chorei para a vida.
minha mãe feliz me embalou nas cantigas de ninar,
cantava, pra lá e pra cá, me fazendo nanar.

Nas noite escuras, embalado a sonhar,
acordava em choro, com medo da morte,
e dormia as carícias de mamãe,
que me enrolava e me acalmava.

Acabei por me acostumar com as noites,
frias e escuras, mamãe me ajudou.

Mas ah! parti para longe,
fiquei mais distante,
sinto saudades da voz de mamãe a ninar,

noites de trovão de relâmpagos,
me fazem lembrar,
papai a levantar pra juntar água da bica,
numa alegria,

Chuva é esperança,
noite de bonança,
do seio de minha casa,
sinto saudades,
das noites estreladas,
varando as madrugadas,
na fé do obscuro,
onde a vida quem sabe há.

mote

O que andas a fazer,
fazer por aprender?
ando a xeretar,
aqui, ali e aculá.
Aprendi a falar,
o que devia o que desvia,
da poesia, da magia,
agora uso da fantazia,
pra esquecer o medo da morte,
aos poucos tenho sorte,
não encontrar vazia,
a vida cansada se entrega a morte.

Negra noite

O céu atropurpúreo,
aos poucos desponta estrelado,
brilhos do mais diversificado,

as vias lácteas pálidas,
caminhos de leite de sonhos,
mil e uma formas,
milhares de fazes,

no céu claro do verão,
que muda a cada estação,
mitos, histórias se constroem,

entre um café, um chá um prosear,
a vida passa mateira,
ao som dos grilos da noite,
a chegada do vento de acoite,

canta o grilo,
escondido na negra noite,
nos oitões,
nos currais,
nos cafezais.

Negras forças,
tudo trás,
lembranças
de crianças,

de um tempo que não volta mais,
brilha estrela na minha mente,
embaixo dos cafezais.

Sabia sabiá!

Pobre dessa sabiá,
agora vivi cá,
ora voa pra lá,
coitada, deve esta cansada,
desde que o dia nasceu,
a pobre voa atordoada,
em busca de minhocas,
pra alimentar a filhotada,
como aguenta,
três bicos pra criar.
pobre do sabiá,
nem canta mais,
ta de pernas finas,
de tanto trabalhar,
voa pra cá e pra lá,
ah sabiá,
que o dia se vá,
e então possas descansar.

Deus

Deus, para aqueles que creêm,
neste momento de solidão,
dai o conforto, estenda-lhes a mão,
salva aqueles que leêm,

que são cegos pela razão,
pai do infinito, tu que têm,
o espírito de tudo, sauvai aqueles que veêm,
em ti luz e salvação,

Deus como se acostumar com um não,
como viver a azedar a alma, a quem deêm,
um pedaço de pão,

falta paz no coração,
ser abandonado, sem ter alguém,
morre, escorre a vida em sua mão.

O amor

Como é fácil amar na alegria,
Como é fácil de amar na folia,
como é fácil amar a quem tudo tem,
como é fácil de chamar alguém de meu bem,
de barriga cheia, sem nenhum problema.

Mas será isso o amor?
se no momento de dor,
de dificuldade, tu queres,
algo melhor, queres ti desacomodar.

Um anel não sela o amor,
o que sela são as vitórias,
vencer a dificuldade quotidiana,

Amar é como trabalhar no mar,
em dias de bonança ou calmaria,
dias de tempestade, dias de fome,
dias que parece que vai morrer,
mas antes renasce, como o sol
nascendo na manhã,
isso sim sela o amor.

Um amor incondicional,
que dribla as dificuldades,
que margeia a dor,
e renasce como a flor,
numa planta,
que acredita que um dia fruto será,
investe, sacrifica, todas as flores,
porque acredita no amor,

ah, as dificuldades selam o amor,
quem não entende isso,
desconhece o que é o amor,

pois amor não é só bonança,
é também temperança,
esperança,

um afago ao peito.

Conheci o amor,
no olhar da mãe,
que ama incondicionalmente,
até o leito de morte,
até que o trapo humano,
desencarne,
chora na sepultura,
a dor de quem partiu,

Descobri que amar a se mesmo,
é mais importante, pois
a dor que gera o amor,
muitas vezes transforma sua vida em dor,
solidão.

Entregue-se a paixão,
e tente encontrar o amor,
mas saiba que na maioria das vezes só encontrarás dor,
a vida perderá a cor,
se não souber te amar,

Amar no conforto é muito simples,
doa-se ao amor,
é morrer,
porque quem mais ama é quem mais sofre.
quem sabe na morte,
terás o sabor,
e possas dizer que de tudo tentou,
se não deu,
talvez o amor não exista,
seja algo abstrato,

não seja um fato.
Quem sabe?

quem sabe?

quem sabe?

Viagem


Quando fechei a porta de casa,
pus a mochila nas costas,
parti para bem longe,
fui de ônibus,
sem pressa, sem medo.

Sentou-se ao meu lado,
um senhor viajante,
cansado de tanto andar,
começou a conversar,
falou sobre o mundo,
sobre objetos, desejos,
alegrias, tristezas,
falou de coisas que desconhecia,
falou em versos,
aquilo era poesia.

Seu rosto embotado do tempo,
enrugado, dentes desgastados,
falou-se de deus, do diabo.

Cantou uma música,
embalada ao vento.

Então o sol já se punha,
bem no horizonte.

Então o senhor,
pediu pra descer,
apertou-me a mão,
senti que sua mão era caleijada,
como de quem usava a enxada.

Desceu em um pequeno vilarejo,
de casas em tijolo nu,
sorriu, disse adeus.

E quando olhei pela janela,
a criançada, correndo em sua direção,
abraçando e gritando,
vovó e um pequeno deficiente, vinha se arrastando,
sorrindo intensamente,
naquele momento,
meu coração conjelou,
chorei, tomei um gole de água.

Descobri que aquele homem,
viajava, mas na imaginação,
suas histórias em nada eram falsas.

O senhor da frente,
falou da fama de seu joão,
das suas famosas histórias,
de sua criação.

Então, minha viagem seguia,
anoitecendo, escurecendo,
ganhei, a viagem na viagem.

Cheguei ao meu destino,
vivi, sonhei, brinquei,
aquela viagem,
foi maravilhosa,
cheira de prosa,
cheia de paixão,
deixei de lado a solidão,
e quando voltei pra casa,
já não era o mesmo,
tinha uma carga do tempo,
de histórias,
uma sensação de amor pleno,
quando cheguei em casa,
minha casa sorriu,
sua porta abriu,
e ah!
cá estou no seu átrio,
a habitar,
sem nada esperar,
só a digerir,
o que tanto vivi.

O que a vida me permite é viver, sonhar e viajar.

Alegria

A muito tempo não percebia um dia sereno, mais pareceu uma manhã nova em minha vida. Daquelas com sabor de embriaguez, acordei tarde. O sol quente que arde, brilha no céu. Pássaros calados, cachorros latem longe. Manhã de Natal. Bem ti vi, bem ti vi, bem ti vi... cantou o bem ti vi. três filhotes de sabiá corrichiam no ninho. Meu estômago reclama que está com fome. Abri as frestas da janela e a luz invadiu meu quarto no mesmo instante. Não Me sinto tão bem a muito tempo.

domingo, 14 de novembro de 2010

Dia em que sai de casa

Foi numa noite de luar que fui embora, era oito de agosto de 2000. Não foi o dia mais feliz da minha vida, porque deixei papai, mamãe e Roberto. Me emociono só de pensar que papai subiu na barreira e ficou chorando forte, mais parecia dor da morte. Mamãe de certo chorava. Estava muito feliz ansioso pelos estudos, triste por meus pais que ficaram sozinhos. Mas a vida anda. Peguei o grande ônibos guiado por Almeida, motorista a muitos anos da viação Oeste. Neste dia tive a felicidade de minha chefe ir à capital também. Depois de esfriado o choro, depois que saímos de Martins fui me acalmando e ficando mais ansioso por Natal, a lua clara e ansiedade não me deixaram dormir. Chegamos em Natal, chuvia bastante. Então desci no Machadão. Com um papel contendo todas as indicações de onde ia ficar. Peguei de taxi um escort, e fui certinho até a casa de minha amiga. De agora em diante seria um natalense, mas não foi fácil. Cheguei na casa chamei Josemar, finalmente conheci, sim porque Lívia minha amiga falava muito bem dele. Era um doce de pessoa. Minha vida começou lá. Por duas semanas tive que cozinhar, lavar e passar a roupa. Ir a pé pra faculdade, com medo de me perder. Mas foi uma aventura. Foi uma maravilha podia estudar até altas horas, fazer o que quisesse. Nem tudo foi doce, nem tudo foi amargo. Foi natural. Fui forte, tive sorte. Eu sobrevivi, mesmo as saudades de meus pais. Formei-me e me pergunto meu deus quando vais me dar um emprego? Quando vou poder ajudar meus pais?
Fazem 10 anos de estudos. Que batalha longa. A vida há de nos recompensar!

Viagem subjetiva

Palavras?
Como usar?
Não sei, sou quase um bicho que relincha pra se comunicar.
Minhas palavras são desarticuladas, não comunico, falo o que vem a mente. Isso muitas vezes irrita.
As vezes sou condicionado, como um cão que abana o rabo quando quer carícias ou comida.
Muitas vezes não sei me expressar. Então uso a frase do peno príncepe "A linguagem é uma fonte de mau entendidos".
Não penso decoro as palavras, as frases, as tiradas. "Nunca me viu cara de paviu sem fio" só funciona com João Semir, aprendi com ele.

Já "O sol nasceu para todos, mas a sombra é para poucos", aprendi com o Gato, sério nem sei o verdadeiro nome dele. É um cara muito inteligente, cheio das tiradas física. Dizia ele que a preocupação na cabeça de Vitoriano era do tamanho de um átomo de hidrogênio. Falava sério, nos riamos até. Largou física pra fazer enfermagem, na certa hoje ganha muito bem, mora lá em Almínio Afonso, cidadezinha do interior do RN.

Essa tirada dele é muito boa. Todo mundo ri quando a uso.

Sempre foi assim foi colando uma coisa aqui outra ali.

Minhas piadas são um fracasso, faço rir, mas por não saber contar a piada.

Minha alfabetização foi muito laboriosa, rendeu dois anos a Dona Livanir que tinha as orelhas grandes e todo os dias puxava minhas orelhas pra ver se cresciam tanto quanto as dela, ou será porque eu era danado? eis um paradoxo que não resolvi ainda. Acho que gostei pois passei dois anos com ela. E minhas notas, provam que não era lá um bom aluno. Meu amigo Aurivam aprendeu a ler primeiro que eu. Era um dos mais inteligentes, lia os maiores textos. Lembro que certa vez leu uma leitura sobre um besouro. Eu era broco. Quase não pega no tranco. Mas aprendi. Não gostava das palavras, confesso que gostava das imagens. É adorava as capas dos livros, as figuras que antecediam as leituras. Gostava de imaginar o significado das imagens a leitura do texto.
Enfim passei para a segunda série. Bem como sabia da boca do povo que Elenita Dias Lemos era um general que expulsava os alunos ruins, ah, essa não, nunca fui burro, ficava quieto. Minha orelha parou de crescer. Essa foi maravilhosa, passei dois anos com ela, mas porque ela dava aula pra segunda e terceira série.
Mamãe avisava que se fizesse danação na escola, apanhava, então me pelava de medo dos bilhetes dos professores. Dava prazer, dizer que estava de férias que tinha passado de ano.

Então a coisa mudou, deixei a minha escola, sim a Escola Isolada Serrinha do Canto e fui estudar na Estadual. Minha escola, limpa por Zinar de Antônio de Docinha, que ganhava uma merreca pra fazer a merenda e deixar limpa a sala, pela manhã, a tarde era dona Dudé. Para ir para uma escola que mais parecia um presídio, até muro com caco de vidro tinha. É a vida mudou, tinha vergonha de ir na minha monareta pra escola, o infeliz do Fabim de Dodora que é ainda meu primo pegava ela pra fica empinando. Ficava muito irado, mas tinha medo de apanhar, então deixei a guardar na casa de Seu Leopoldo. Bem minha nova professora era Dona Conceicão e nós éramos sua primeira turma. Era magra, morena clara, e tinha o cabelo curto, muito sérias. Todos os dias fazia todos nós rezar um pai nosso. Gostava, naquele tempo, não conhecia ninguém, mas não demorou muito fiz amizade com todos. A memória ainda está fresca. Gostava das aulas de dona Ceição, nesse ano fui bem em todas as provas.
A quinta série foi uma emoção, conhecia o povo da serrinha, mas agora na quinta série era coisa de gente grande. Tinham as turmas A, B e C, era novo ainda fiquei na turma A. Olha nessa turma conheci os meninos e meninas das Lages e Boa Vista. Das Lages tinha Cleilton um menino com o rosto cheio de sardas, muito bom em matemática; Edinéia a linda menina de olhos grandes, Verônica. Da Boa vista, Sileuda e Alessandra. Tinha a menina mais linda da quinta c da Boa Vista Adalziga. A Boa Vista tinha muito boa fama de mulheres bonitas. Ah esse ano foi uma desgraça,
andava com os piores alunos, fazia baderna, cheguei a ser expulso da sala. Ufa, certo dia uns moleques estava fazendo baderna com as cadeiras. Então Chaguinha que era o diretor chegou e enquadrou todo mundo, não sei como escapei daquela. Foi muita adrenalina. Fiquei de recuperação em matemática e português. Pensei dessa não passo. Mas passei. Na sexta série, a mão de deus me ajudou, ou melhor, o professor deu 10 a todo mundo numa prova de matemática então passei. Descobri a beleza da biologia no livro de ciências da sexta série, quantos animais. Esse não devolvi, fiquei pra mim. Aprendi muito com ele. Todos meus colegas perguntavam quando ia ter aula de educação sexual, não perguntava, tinha vergonha, mas vibrava quando alguém falava. Detestava as aulas de Duceu, de história e religião, ela não tinha culpa, mas que aulas chatas, escrevia e lia. Acho que não sabia sequer o que era história, mas ela precisava ganhar o pão de cada dia. Educando?
Ah na sétima foi maravilha, tive aula com Ledimar o melhor professor de matemática que já conheci. Será que ele era carismático não tenho dúvida. Na época era um dos poucos que fazia faculdade em Patu era ele, dona Maura, Eudes e dona Manuela. Conheciamos quando ele vinha desde que o timbre da moto zoava na padaria. Uma honda 88 vermelha linda. Finalmente contei meus dias de Serrinha dos Pintos queria estudar em Martins.
Em Martins tive meus melhores dias de escola. Lia todo dia o que o professor passava a noite, decorava tudo. Tirei muitos 10, vasculhava a biblioteca, que só tinha livros velhos. Vi muitas vezes dona Bebete cochilar, enquanto vasculava aqueles livros. Para gostar de ler... Ela muitas vezes me emprestava sem precisar anotar, sempre devolvia tudo.
Bastava a aula acabar pra correr pra lá.
Pra Martins tinha que ir de ônibus, depois de pau de arara. Foi muito bom esse tempo. Tinha a professora, minha mentora em Biologia. Janildes que amava de paixão, o professor de história Zé Nilson excelente. e outros mais. Eu disputava com Sandrinho as melhores notas.

Tudo era decoração, por isso demorei mais de três anos pra entrar na faculdade. Eita que cabra rude, pensava.
Não conseguia ler, eu interpretava. Por isso me tornei taxonomista de plantas, estou sempre usando a imagem pra interpretar.

Não aprendi a falar, me expressar, mergulhei na filosofia, acho que um dia sei lá.
A vida há de me recompensar.

Mel

O doce

O sabor do mel,
adoça minha alma.

Aquele doce melado,
transparente resinado,

apetece meu desejo.

Mas todo mel,
em excesso,
lambusa, abusa,
passa ter gosto de fel.

mel demais faz mal,
até mesmo as abelhas,
morrem afogadas no mel.

Mas o mel,
afrodisíaco mel,
demais enjôa.

Schubert

Gênios humanos,
Poucos homens construíram obras universais. Será? talvez, apenas esses poucos homens conseguiram cristalizar suas ideias. Quantos gênios não existiram ou existem no mundo, mas que simplesmente sua genialidade ficou adormecida. Nem sempre o mundo foi uma rede, uma nuvem, onde a qualquer momento podes ser contemplado com a sorte de ser uma estrelas. O que percebo é que a trajetória dos grandes homens envolvem muita dor, muito suor e dedicação, homens que viveram simplesmente por suas convicções. Homens que acreditaram e acreditam em si. Que construíram a própria história com punhos de aço, souberam fazer das dificuldades um motivo para seguir em frente. As dificuldades são inerentes a vida. Acredito que todo ser humano tem em si a semente do brilho, mas poucos sabem cultivá-la, às vezes o caminho das pedras não é ensinado e a dor faz recuar. Quem não recua se destaca. O brilho está dentro de cada um. Todos nós somos únicos, com formas peculiares, embora semelhantes, no entanto diferentes. Nós que nos construímos. Nem sempre o sucesso está aos nossos olhos, mas está lá. Latente desperte o melhor de ti. Uma criança nasce pura, cresce, atinge maioridade, por fim se torna um ser. Esse ser depende dela mesmo. Pense nisso!

Lixo

As ruas já não estão nuas,
vestiram-se de lixo.
o luxo é um lixo,
essa teia humana continua,

desejo de querer até bicho,
homens animais,
animais homens,
A fome consome o lixo,
o lixo do luxo,
enche o bucho,
de quem tudo quer.

Quanto vale um homem?
um monte de lixo,
não é porco mas come, do lixo,
salões de beleza,
contra a natureza,
mais vale o cão,
a um mendigo,
um drogado,
lixo humano?
As ruas estão cheias,
dinheiro nas meias,

dos homens de poder,
e os jovens na rua,
consumindo o lixo,
o lixo da droga.

Que nos restará,
além do lixo?
lixo humano,
o cérebro não é descartável,
homens não são lixo,
não se consome e descarta,

um dia iremos pagar,
por usar, da vida,
da natureza,
para o luxo,
e transformar tudo em lixo.


sábado, 13 de novembro de 2010

o melhor

Sempre achei que as melhores coisas vinham no final. Foi assim que organizei meus pensamentos, minhas coisas. Acho que me enganei. Não existem melhores coisas. Cada uma tem a sua vez, seu momento, todas são melhores a seu tempo. Por muito tempo fiz com que as coisas que faço e penso me satisfizessem no final. Deixava a melhor carne pra comer no final, melhores conversas pro final, melhores frases pro final. Achava que o sabor do livro estava em bater a capa final. Estou aprendendo a duras penas que tudo momento é especial. Já sabia disso, havia lido em Santo Agostinho, eu acreditei nos meus sentidos, me enganei. Quantas coisas poderiam ter sentidas com maior intensidade? Tudo bem não me arrependo, afinal viver é um constante aprender. Estou tentando ser diferente, mas é difícil curvar madeira velha. Estou tentando, vou consegui, sempre consigo o que quero, pelo menos nos sonhos tudo posso.
Ninguém nasce feito em nada, senão trabalhar, suar nunca vai deixar de ser um nada.

Tensão.

Quando me sinto sozinho,
e me acho no meio do caminho,
sem saber para onde ir,
penso em deus, sinto um aperto,
forte no peito,
sinto vontade de chorar,
eu sinto o silêncio frio,
da casa vazia.
Fico num descontentamento,
numa ansiedade, um desespero,
tenho vontade de desexistir.
sento e levanto,
entro na net,
não quero nada, ninguém,
sei que a vida pulsa,
em descompasso,
descontração,
nada faço,
ouço o Amadeu,
não dança minha mente,
calor, frio, fome, desejo...
sinto tudo e nada, estou confuso,
queria ouvir soar a campanhia,
o telefone tocar e nada,
fico aqui,
feito doente,
da mente,
passo o dia,
tentando driblar
a solidão,
essa é minha condição,
agora, esse agora que não,
passa, ou passa,
devagar,
como o tempo.

O gozo

Um dia Maria,
sentado no banheiro,
descobri na insistência,
o gozo, ai que gozo!!!
nem precisei pensar,
foi tão intenso,
que intenso, prazer.
Não sabia que seria,
que a partir daquele dia,
a vida deixar de ser poesia,
a partir daquele gozo,
minha vida naufragaria,
em busca do desejo perfeito,
busca de quem o conseguiria,
o primeiro gozo nunca se esquece,
porque se quer esquecer,
por ser feio, obsceno,
foi perdendo a intensidade,
foi vindo a verdade,
precisava daquele gozo,
descobri na mulher o desejo,
descobri no beijo,
uma forma de gozar,
eu queria, novamente,
e novamente, amar.
que ironia
a partir daquele dia,
descobri um novo sentido de viver,
queria mesmo era --der,
fiquei viciado.
Mas fui levado,
a viver aprisionado,
em busca do desejo,
em busca do beijo.
Não sabia a natureza,
preparava, uma maneira de me eternizar,
de jamais acabar,
a vida...
vida por que descobri o gozo,
por que descobri o gozar,
por que me faz largar,
minha infância?

Descobri no gozo a dor,
descobri no gozo a prisão,
de se dar em uma relação,
só me resta a subordinação.

Umburana

Uma semente trazida pelo vento caiu em meu jardim. Encontrou solo fértil, umido e fresco. Germinou bem ali. Não vi quando nasceu, porém aos poucos foi crescendo e aparecendo. Um dia acordei, não fui para o trabalho, não fui para o computador. Sai para contemplar a natureza, ver a natureza viçosa. E percebi que um novo ser viver bem aqui. Contemplei-a bela planta exclamei!
Ela sorriu pra mim. Voltei pra vida, liguei o computador e segui a vida. Nunca mais a vi, mesmo estando ali. Um dia então sonhei que tinha uma nova planta em meu jardim. Foi um sonho lindo, uma umburana em meu jardim! Senti que algo gostoso entrava pelas frestas de minha janela.
Abri a janela era ela desabrochando suas primeiras flores. Acordei do sono.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Taipa

Essa casa de taipa, tão bonita, tão simples.
O telhado desalinhado, velho e preto,
As paredes de barro, barrigudos, estriados,
o chão batido, aguado, varrido.

Forquilhas de madeira,
sustentam a cumieiria,
salas, quartos e cozinha,
tão modestas e pequenininha.

No pé do fogão,
dorme a galinha poedeira,
na combuca dorme o periquito e o sal.

um tripé de maniçoba,
sustenta o alguidar de leite,
na casa de taipa,
as pessoas tem ideias rústicas,
são sabias por natureza,
pois veem a beleza,
em viver, para além das paredes.

Desespero

Ultimamente tenho medo do tempo,
fico paranóico, sem pensamento.
O tempo me consome, não mata minha fome,
de existir, de exprimir.

Não ultimamente está difícil,
tenho os nervos a flor da pele,
tudo me irrita, tudo me excita,
sintomas do medo do tempo.

Acho que vou tomar algum prozac,
acho que vou ler Balzac,
não sei, o tempo está me enchendo de dúvidas.

Não posso correr, sei que vou morrer,
consumindo o tempo, como cachaça,
consumindo meu medo, entregando minha alma ao diabo.

O vazio

Vazio

Está tudo vazio,
quarto vazio,
peito vazio,
aperta a solidão.
O escuro da noite,
traz um vácuo no meu ser,
extremo vazio.
Solidão?
Medo?
Não quero ouvir uma música,
pois me sinto só,
a música me trará lembranças,
não as quero agora.
Quero sentir o ruido do vazio.
Quero falar com o vazio,
com o silêncio.
Será que quer me dizer algo, este silêncio?
Quem sabe, não senti, ainda.
Só sinto o vazio,
sinto frio,
frio da noite,
sem estrelas,
sem luz,
o vento fala algo,
mas não quero conversar.
vou tocar no vazio,
da casa,
da mente,
do coração.

Cada um.

Cada um com seu cada um.
uns gostam de amar,
outros adoram viajar,
a maioria precisa trabalhar.

Um diz que quer amar,
mas só sabe viajar,
outro diz que quer viajar,
mas só sabe amar.
Alguém tem que trabalhar.

uns discutem quem deve viajar,
quem deve amar,
a maioria é mandada para trabalhar.

Queremos ser juízes de quem deve amar, viajar e trabalhar.
Eis os formadores de opiniões,
que se fazem grandalhões,
pois só sabem discursar,
bobas tramas inventar.

O que é o amor?
O que é o conhecimento?
Todos sabem que tem que trabalhar,
alguém tem que trabalhar,
para os vigaristas viajar,

com desculpa de progresso,
do melhor bem está.

Cuidado com os formadores de opinião,
formadores de conceito,
pois arrancam-lhes os do peito,
e teu coração, com a própria mão.

Gênios

Quanto brilho emana de uma mente humana?
Einstein um dos maiores gênios humano era simples, contemplava a música, a natureza e o universo. Nasceu e cresceu como qualquer ser humano, teve dificuldades como qualquer ser humano, se preocupou com a estabilidade, quis um emprego, consegui, construir uma teoria tão importante que surpreendeu o mundo. Com sua simplicidade conseguiu ser conhecido por todo o mundo. Tocando seu violino, viajou onde jamais um ser humano conseguiu chegar, conseguiu se imortalizar, com o brilho de suas ideias. Não somos gênios como Einstein, mas como cada um que ler, que pensa, que acredita, pois somos peculiares e unicos. Quem sabe se nos desapegarmos muito dos nossos desejos, se sonhamos mais, não venhamos a brilhar, imortalizar-mos para além da sepultura, das nossas futuras gerações. Vivemos no mesmo mundo que viveram homens que conseguiram construir um mundo melhor, Sócrates, Galileu, Darwin, Bach, Machiavel, Hoobes, Ford, Nietzsche dentre outros. Sim eles viveram com todas as dificuldades de humanos o que nos separou foi apenas o tempo e o espaço, no entanto suas obras estão disponíveis para todos e quem dispor a fazer uma leitura, certamente será capaz de compreender melhor o mundo. Talvez se tivermos sede de compreender o mundo, tentar fazer algo pra torná-lo melhor, talvez assim teremos maior quantidade de gênios e quiçá um mundo melhor.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A água

Água fonte de vida,
que lava a pele,
que alimenta a alma,
que sacia a sede do corpo.

Água que ao se condensar,
debruça-se sobre a natureza,
clareia as paisagens.

Água que segue o leito dos rios,
que desce ralo abaixo,
e leva nossas sujeiras,
mas não lava a alma.

dar vigor, ameniza o calor,
sana a dor.

Água divina fonte de vida.

Não laves tua calçada,
salve a vida,
varra seus problemas,
pois a água é rara pra ser desprezada.

feche as torneiras,
enxugue as lágrimas,
muita dor não merece saudade.

lave a pele, baba a água,
siga a vida, onde o curso der,
quem sabe um dia,
sintas falta,
da calma, da alma.


Brasas

Sob o céu embrasado,
brilha no horizonte
o sol, brilho jorra em fonte,
um brilho finado,
de despedida, atrasado.
se entrega pra noite,
e apaga o dia,
até a poesia,
se recata.

Cerrado

No céu encarnado,
o sol se põe,
no solo enrubrado,
suave poeria expõe...

ah que horizonte,
sem sequer um monte,
que ares secos,
no fim da tarde,
o sol ja não arde,
e deita o sol,
se entrega a noite,
sem vento ou açoite.
na calma do cerrado,
a natureza se encerra.

Sapo

O sapo
pula,
pula,
pára.
senta
a barriga,
cheia,
contempla,
buda,
sapo,
ruga,
cuidado,
sapo,
com o carro.
sapo, sapo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O café

Um cafezinho.

Nunca vai chegar numa casa no nordeste em uma casa em que o dono gentilmente não ofereça um cafezinho. Começa assim você chega, num calor dos diabos, se apresenta, e pede um copo d'água. Antes as crianças eram muito tímidas ficavam escondidas até que os pais atendiam ao visitante, aos poucos como, animais de estimação, repentinamente florava de meninos e meninas nas portas e janelas, sim porque as famílias eram enormes. Casa de chão batido, tijolo a vista, e tamburete pra sentar, água fria logo trazia a mãe, enquanto o pai alinhavava uma conversa. E sem perguntar pra visista se desejava um café o marido falava pra mulher fazer aquele café. Debaixo de tanto calor um café faz muito bem, pois a cafeína ativa os músculos. Hoje se voce chega numa casa no nordeste, com o luz para todos, não tem esse lugar que não tenha eletricidade. Quando voce chega, os meninos não se escondem mais não, são todos sabidos, são contados, no máximo três, porque criar hoje está difícil os pais pensam que os filhos tem futuro e não servem de mão de obra, pensamento, retrogrado. Os filhos já chegam falantes, pois aprendem de tudo na novela, até beijar na boca sem ter vergonha. Sim porque os meus primeiros beijos sempre eram as escondidas de minhas irmãs, mãe, pai ou família tinha vergonha, os filhos cheios de pergunta, mais parece serem reporteres, tem que se preparar senão é taxado logo de matuto. Então chama voce pra sentar, trazem água gelada, é todo mundo com o bolsa família, bolsa maternidade, ganha uns trocos e compra parcelados nas paraibanas seus eletrodomésticos. E trazem um café se tiver doce, vai de doce e o café sim aquele café. Santa Clara viu se não for essa marca, não presta, foi-se a época de café quimimo. Bem se voce não toma café oferecem um doce ou o que tiver e ai de voce não aceitar, isso é desfeita.
Mas nem sempre foi assim quando era pequeno era viciado em café com leite e o engraçado é que tomava café com leite no prato, porque o líquido esfriava rápido. Na época do Sarney que a inflação estava nas alturas, imagina que o povo vendia até galinha pra por na poupança, teve gente que achou que ia ficar rico lá em serrinha, vendeu até a última galinha, veio Collo e comeu tudo, enfim a coisa estava muito feia. Café quase ninguém podia comprar, vi várias modas, gente fazendo café de milho, até de canavalha. Era bebi lá em dona Francisca de seu Mundim café de milho. Então pra não ficar sem café papai comprava nescafé e eu gostava. Não percebia diferença. Tempos brabos. Aqueles. Mas enfim o café sempre fez parte do quotidiano nordestino. Na casa de minha tia que parecia uma creche, nunca vi tanto filho e neto, lá era pra mais de cinco pacotes por semana, os meninos eram viciados, no café, voce via os meninos bebendo café e chupando a língua pra saborear o gostinho finito do café. Quando ia lá pra tia Nina já sabia, que ia demorar, pois era dois cafés um na chegada e outro na saída. Nunca vi pessoa mais agradável até Conforça almoçava lá. Sempre o café fez e faz parte da cozinha nordestina. Não sei se é bom ou ruim, talvez não seja um café colombiano, mas cada um tem sua forma de prepará. Garanto que não é um chafé.

O café

Um cafezinho.

Nunca vai chegar numa casa no nordeste em uma casa em que o dono gentilmente não ofereça um cafezinho. Começa assim você chega, num calor dos diabos, se apresenta, e pede um copo d'água. Antes as crianças eram muito tímidas ficavam escondidas até que os pais atendiam ao visitante, aos poucos como, animais de estimação, repentinamente florava de meninos e meninas nas portas e janelas, sim porque as famílias eram enormes. Casa de chão batido, tijolo a vista, e tamburete pra sentar, água fria logo trazia a mãe, enquanto o pai alinhavava uma conversa. E sem perguntar pra visista se desejava um café o marido falava pra mulher fazer aquele café. Debaixo de tanto calor um café faz muito bem, pois a cafeína ativa os músculos. Hoje se voce chega numa casa no nordeste, com o luz para todos, não tem esse lugar que não tenha eletricidade. Quando voce chega, os meninos não se escondem mais não, são todos sabidos, são contados, no máximo três, porque criar hoje está difícil os pais pensam que os filhos tem futuro e não servem de mão de obra, pensamento, retrogrado. Os filhos já chegam falantes, pois aprendem de tudo na novela, até beijar na boca sem ter vergonha. Sim porque os meus primeiros beijos sempre eram as escondidas de minhas irmãs, mãe, pai ou família tinha vergonha, os filhos cheios de pergunta, mais parece serem reporteres, tem que se preparar senão é taxado logo de matuto. Então chama voce pra sentar, trazem água gelada, é todo mundo com o bolsa família, bolsa maternidade, ganha uns trocos e compra parcelados nas paraibanas seus eletrodomésticos. E trazem um café se tiver doce, vai de doce e o café sim aquele café. Santa Clara viu se não for essa marca, não presta, foi-se a época de café quimimo. Bem se voce não toma café oferecem um doce ou o que tiver e ai de voce não aceitar, isso é desfeita.
Mas nem sempre foi assim quando era pequeno era viciado em café com leite e o engraçado é que tomava café com leite no prato, porque o líquido esfriava rápido. Na época do Sarney que a inflação estava nas alturas, imagina que o povo vendia até galinha pra por na poupança, teve gente que achou que ia ficar rico lá em serrinha, vendeu até a última galinha, veio Collo e comeu tudo, enfim a coisa estava muito feia. Café quase ninguém podia comprar, vi várias modas, gente fazendo café de milho, até de canavalha. Era bebi lá em dona Francisca de seu Mundim café de milho. Então pra não ficar sem café papai comprava nescafé e eu gostava. Não percebia diferença. Tempos brabos. Aqueles. Mas enfim o café sempre fez parte do quotidiano nordestino. Na casa de minha tia que parecia uma creche, nunca vi tanto filho e neto, lá era pra mais de cinco pacotes por semana, os meninos eram viciados, no café, voce via os meninos bebendo café e chupando a língua pra saborear o gostinho finito do café. Quando ia lá pra tia Nina já sabia, que ia demorar, pois era dois cafés um na chegada e outro na saída. Nunca vi pessoa mais agradável até Conforça almoçava lá. Sempre o café fez e faz parte da cozinha nordestina. Não sei se é bom ou ruim, talvez não seja um café colombiano, mas cada um tem sua forma de prepará. Garanto que não é um chafé.

Beijo

Vi

Os olhos que olham curisos aquilo que os espanta.
Sim aquilo que é novo espanta, belo ou ridículo, encanta.
Esses olhos que me mostram o mundo.
Deixou-me rubro, pois viu beijos femininos.
Ah, a culpa é dos olhos, nenhuma curiosidade.

Sim foi um espanto, não de preconceito,
mas sim de beleza.

Aquele beijo enamorado,
nunca tinha encontrado minha visão.
Atômito, ipnotizado quase parei debaixo de um carro.

Rubro duplamente rubro com o beijo,
com aquela expressão de afeto,
com o medo, da morte, da expressão do motorista.

Parei, me recompus.

Sai meio atômito,
minhas carnes tremiam de medo.
da morte ou da sorte,
de ver duas ninfas se encantando,
se enlaçando num beijo.
beijo duplamente feminino.


dia

Quando acordei, afoguei-me em angústia, dúvidas que me preocupam, que assolam o meu ser.
Então resolvi ficar em casa. E assim o fiz. abri a janela. A luz do sol, o frio, o canto do passarinho entraram no meu átrio. Fizeram-me sorrir.

Muriçoca

Delicada e elegante voa a muriçoca, com som irritante, desperta e suga um gigante.
Onde se escondes? Aparece!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

tarde da noite.

Quando é tarde da noite,
vem o sono,
e o vento chega de acoite,
trazendo os sonhos,
embalando histórias,
reeditando memórias.

Quando é tarde da noite,
a alma desprende do corpo,
e viaja pro mundo dos sonhos,
vai a fundo nas memórias,
em busca de histórias.

Quando é tarde da noite,
tenho que dormir,
para acordar cedo e ver o dia se abrir.
no sol.

Cinzas do São João

As cinzas

As cinzas da fogueira de são joão,
abrigam calor e brasas,
cinzas das chamas que alegram a noite passada.
cinzas de uma fogueira feita as pressas,
de improviso, com madeira velha e madeira verde, pra não queimar e acabar com a festa cedo.
Coisas de papai.

Quando chegava junho que alegria sentia. Começava logo no dia 12 dia de Santo Antônio, não sabia que era dia dos namorados, só sabia das experiências do santo casamenteiro. Tantas superstições engraças e ingênuas. Papai não fazia fogueira, pois nos preparávamos para o São João. E contava a dedos os dias que se passavam, esperando o grande dia. O dia dos bolos de milho, dos traques, das bombas, da queima de bombril. Eis que chegara o grande dia. Acordava feliz, pulava da cama e fazia tudo que papai e mamãe mandade, pois tinha que ganhar traques no mínimo vinte estouros ganhava. Botava água, cortava palmatória pro gado. Moia o milho prós bolos, prás broas. Mamãe sempre fazia dois ou três bolos. Um nos comíamos a noite mesmo e o outro ficava pra manhã, lógico que o melhor né. Então papai quebrava milho verde e assava na fogueira. Era um ritual, ajudava papai a fazer a fogueira. Pra isso saiamos sítio a dentro em busca de madeira seca, dos galhos ou cajueiros secos, papai cortava madeira de cajarana, que não é uma madeira boa quando seca, verde pra não queimar tudo até o fim da noite. Então chamava os filhos do meu vizinho para ajudar a carregar a lenha. Os pais deles não fazia fogueira, não creiam em santos, eram evangélicos. Então trazíamos o balseiro de lenha pro terreiro e antes das cinco horas estava pronta a foqueira, grande e linda. Às seis iamos todos para o terreiro ver papai acender a fogueira. Logo aquele fogo tímido saido da lamparina tomava conta da lenha. Os crentes passavam pra igreja e davam boa noite. As vezes Heleno vinha com Maria e Fernando lá pra casa. Então soltava o primeiro traque pra animar a festa. Pow, Lidiana minha irmã mais nova tinha medo de traque coitada e começava a chorar, pra ela creio que era um pavor a festa, acho que pra ela só prestava quando acabavam os estouros. um, dois, três... pow, pow, pow... Respondia longe lá prás bandas de Antônio Matins. Ouviamos o som do forró longe. Vinha o milho assado, o café feito na fogueira e o bolo. Que alegria, que festa. Viva São João!!!!
Eram sempre felizes as festas juninas.
De manhã cedo mamãe já acordava pra varrer o terreiro e as cinzas eram posta na valeta da frente. Sempre ficava a marca de queimado no chão que só era apagada com as últimas chuvas do ano. E a assim foram minhas festas juninas felizes, divertidas e abençõadas.

O percevejo

Um percevejo pousado no bebedouro, será que queria tomar água? apenas suas antenas quebravam a estática. Parei, enchi a xícara de água. e só por isso o percebi. O vi alí estático. Movia as antenas, acho que queria expressar algo, será que pedia por um pouco de água? Linguagem de símbolos, nem me comunico através do alfato, talvez ignore o percevegês não entendi nada, então ele começou a se movimentar. Acho que perdeu a paciência. Aquele corpo pequeno, compacto, cinza. Tentou se comunicar, mas eu não entendi nada. O que queria dizer? Quem sabe, talvez se um dia aprendermos a compreender os insetos, possamos ter uma boa conversa. Porque agora só dar para ficar assim, parados a contemplando a vida efêmera.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cara formiga

Quantas coisas consigo pensar?
Quantas coisas consigo pesar?
Se sou apaixonado pelo que expressa.
Se me atrai a atenção até o simples caminhar de uma formiga.
Se percebo a natureza em movimento, além de mim.
Se me encanta o som das aves, o cheiro e as cores das flores.
Se me encanta a dúvida.
Sou atraído pelo enigma da vida.
Se o mundo pode ser interpretado pela matemática,
então equações deduzem o marchar de uma formiga.
O que move uma formiga a viver?
Vida efêmera.
Elegante a formiga sobre suas patas desfila pra lá e pra cá.
Não sabe o que buscar.
O que é importante na vida?
Como avaliar?
Formiga, lagartixa, pássaros, não estão nem ai pra isso.
Simplesmente ignoram a razão de viver, de querer e simplismente. Vivem.

Busca

Quantas vezes cremos que estamos buscando a coisa mais valiosa, e acreditamos de de corpo e alma que se alcançado tal objetivo a vida vai mudar. Então mergulhamos na busca deste sonho, lutamos, trabalhamos e assim vivemos acreditando ser supremo o que fazemos. Mas e se descobrimos algo tão maravilhoso, sublime que compreendemos. O que devemos fazer? A dúvida nos consome. Parece não ter muita coisa a fazer. Segue em frente sem olhar pra trás.

domingo, 7 de novembro de 2010

Incerto

Não seio o que busco na vida. Muitas vezes sou tragado pelas paixões que crio em minha mente, inventar e reinventar motivos pra dar sentido a minha vida, nem sempre consigo ou as vezes tenho um bom motivo que com o tempo vai perdendo o brilho e fica ofuscado. As vezes me falta convicção. É preciso ser forte ter os nervos de aço para seguir uma jornada que se escolheu. As vezes falta paciência, outras vezes falta saco, mas é preciso entender que a vida é constituída de pequenas coisas. Os pequenos atos vão nos tornando experientes. Sem pressa a vida vai passando e nem percebemos, é como está diariamente diante de uma árvore e não ver que esta cresceu, não percebemos porque o tempo que demora pra árvore crescer é um tempo lento. A árvore precisa de tempo pra elaborar um tronco forte pra suportar o próprio peso. Dia a dia ela cresce, faça chuva ou faça sol, do inverno ao verão, no frio e no calor ela continua crescendo. Assim acontece conosco. Embora nos olhemos no espelho todos os dais não percebemos as rugas, não percebemos o quanto mudamos. Sempre olhamos para o futuro, esquecemos o passado e ignoramos o presente. Ora se só existimos no presente, pois nem o passado, nem o futuro nos pertence mais. E persistimos na eterna dúvida da busca. Em alimentar nossas paixões. Entendia mais a vida antes do que hoje, pois era a natureza que ensinava, a paciência e a calma. Que fui perdendo ao longo do tempo na busca de alimentar o imediato. Tenho certeza que tudo passará.
Pelo menos uma coisas ficará. As saudades da vida.

Banho

O corpo cansado,
ainda soado,
pede por um banho.

No banheiro peça por peça,
se despétala.
Despido até a alma,
enfim no banheiro,
somos nós mesmo,
sozinhos cúmplice,
apenas o espelho.

Muitas vezes nos encara,
nos questiona.
Sentamos na privada e pensamos na vida,
um alívio instantâneo nos faz esquecer quem somos.

Sob o chuveiro cai a água,
molha nosso corpo,
nossa alma,
nosso ser se molha.

E quando acaba,
por instantes renovamos,
revivemos, relaxados ressurgimos.
Com apenas um abraço da alma.

Dúvidas da vida

Minha mente está um embróglio, nem sei mais pensar, nem como pensar, o mundo não permite mais pensar. Como pensar se pensam por nós. Quando ligamos o rádio, a televisão ou nos ligamos na internet. Somos bombardeados com propagandas de compre isso, adquira aquilo. Promessas de que nossa vida vai mudar. Realmente recebemos uma avalanche de informações todos os dias, milhões de coisas são produzidas e nós, seres consumidores que somos queremos usufruir de tudo o que é novo, que vai mudar as nossas vidas. Ah! essa roupa vai me deixar mais bonita, ah! Esse batom. Hum, imagina eu dirigindo aquele carro. Que livros maravilhosos. Nossa você leu a veja, a isto é, o estadão... Estamos ficando paranóicos, querendo saber sobre tudo e todos. Não é fácil realmente o tempo encolheu, como absorver tudo em 24 horas, sete dias? um ano passa rápido. Meu deus já é novembro e ainda tenho memórias fresquinhas da virada do ano. Já vem o fim de ano de novo? E o que eu fiz? O que construí de novo? Não sei mesmo, parece que nada. Tenho uma certeza que consumi a maior parte do tempo em frente ao computador, consumindo meu tempo, alimentando minhas loucuras. Minhas loucuras? Será se são realmente minhas? ou será que todo mundo está nessa paranóia? Se todo mundo estiver não são minhas. Estou apenas seguindo o fluxo, a corrente louca do nosso tempo. Vivendo essa tal pós-moderinidade. Isso mesmo fui no google fiz uma busca e a wikipédia já deu até um conceito pra essa palavra veja:
Pós-modernidade é a condição sócio-cultural e estética que prevalece no capitalismo contemporâneo após a queda do muro de Berlim e consequente crise das ideologias que dominara o século XX. Está ai realmente somos loucos. É isso nós seres humanos somos todos loucos acreditando na razão. Somos regidos pelo poder hegemônico que dita como tem que ser as coisas. Dia a dia vamos absorvendo essas idéias, vamos perdendo nossas convicções. Tornando-nos escravos das ideias. Acho que estamos perdendo o referencial de seres humanos ORGANICOS. Cada dia mais acreditamos que podemos mudar o nosso mundo particular, acreditando que poder de consumo nos torna poderosos. Que grande engano. Queremos sumir com a morte, acabar com os ciclos da vida. Nascemos, crescemos e não queremos mais envelhecer, não aceitamos a velhice. Não queremos aceitar a realidade, por isso tempos que fazer de tudo para driblar essas fases. Por isso não paramos para pensar, pois se o fizermos seremos atropelados. E estou aqui coberto de dúvidas, medos e incertezas. Certas vezes escrevo algum verso, ouço a natureza, contemplo um por do sol, porque de onde venho as pessoas ainda tem tempo pra fazer isso, aliás sobra tempo de sentar na praça e conversar ou simplesmente senta-se na calçada da frente pra ver alguma pessoa passar, ou ficar contemplando a tarde. Sinto saudades daquele tempo, onde tinha muitos sonhos. Sim eu tinha muitos sonhos com estes alimentava minha mente, tinha tempo de pensar. Depois que cheguei neste mundo pouco tempo me sobra, tenho que consumir informações, fazer a tese... e pensar. Ai da droga do tempo novamente exigindo mais de mim. Eu sou só um ser humano orgânico que necessita comer, digerir, e descartar o que sobra, preciso dormir e esquecer o que tenho pra fazer senão não vivo pra mim, mas para o pós-modernismo. Senão a vida passará e quando não puder fazer mais nada, irei me arrepender de não ter vivido. Quando morava naquela cidadezinha não sabia que estava cavando minha cova. Pensei que fugir do cabo da enxada, da labuta diária, seria mais feliz. Não sei o quanto sou feliz e acho que muita gente tem essa dúvida. Imagine as pessoas que nasceram e cresceram aqui nesta ilusão de progresso que não sabem contemplar a natureza e que só sabem trabalhar. Que vida dura. Meu irmão já foi absorvido e só pensa em adquirir patrimônio para curtir a velhice. Acho muito legal conversar sobre os planos dele de ter casas de aluguel, melhorar a casa, não entendeu que a vida é o presente momento. Não sei explicar pra ele o mundo que conheço, mundo do conhecimento, dos livros, dos valores, das ideias, mas o fato é que sou igualzinho a ele e só mudei de foco. Ele acumula propriedade e eu conhecimento. Somos dois matutos vindos de uma cidade pequena com o sonho de progresso que estão passando pela vida. Aos poucos estou aprendendo a valorizar a vida, os instantes, mas estou pagando muito caro, dedicando minha vida a isso que faço e que sou e quero ser. Tomara não venha a perder a razão de viver.

sábado, 6 de novembro de 2010

Manhã efêmera

O sol só deu as caras ao meio dia, durante toda a manhã neblinou. Foi uma chuvinha fina, nem assim o calou passou, parece que minha casa é uma estufa. Acordei e fiquei deitado curtindo a preguiça. Pensei num monte de coisas, nada interessante a unica coisa interessante no ambiente era o canto das aves. E a manhã foi assim sem graça, sem luz. Agora o sol apareceu, espalhou o brilho por todos os lugares, nas gotas presa as folhas, no verde intenso das briófitas agregadas ao tronco das árvores. Pela janela aberta entra uma brisa fresca, úmida e trás o odor da magnólia.
Tomei meu café, pouco falei, colhi minha roupa seca do varal. Calmamente passa o dia.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

João de Licó

Uma das pessoas que mais nos servia era João de Licor, um senhor cheio de crença na bíblia, escrevia na parede da casa onde morava e da casa velha pertencente a sua sogra a sábia frase "Viva e deixe eu viver". Casado com Elita que recebeu o sobrenome de Elita de João de Licor. Ele veio do sertão lá para as bandas da morada nova. Depois que ficou viúvo casou com Elita. Nasceu e se criou no Jenipapeiro no município de Portalegre-RN. Ouvi muitas vezes ele falar deste lugar, ficava imaginando como seria. Tinha uma boa narrativa, costumava contar as histórias por meu pai que quase todas as semanas fazia uma boca de noite lá. Era assim desde que éramos criança. Sempre que ia pra lá a noite saia um café, um chá de folha de laranjeira ou um docinho, nunca faltava um agrado. Mais o melhor era ouvir as estórias que ele tinha pra contar. Fui crescendo sempre ouvindo ele falar dos sobrinhos que fizeram faculdade. Dois fizeram agronomia e um fez faculdade pra professor, biologia. Tinham feito a vida, ganhavam muito bem. Sempre que precisávamos de algo emprestado se ele tivesse nunca negava, ensinou todo aquele povo a ser solicito e era recíproco, só tinha um problema se emprestasse algo a ele tinha que ir buscar de volta senão ficava lá até precisar e se voce pegasse algo dele podia ficar o tempo que precisasse. Com ele não tinha frescura. Tinha uma voz arrastada, uma cabeça grande e os cabelos brancos desde que conheci-o. Andava sempre devagar. Acompanhava sempre o PMBD, foi assim até a morte. Nisso não concordava com papai que era do PDS. Eram como se fossem torcedores de times. Nem sabia porque era PMDBista, mas acompanhava o partido. Suponho que segui o partido que doutor Laci apontasse. Era muito amigo do Laci que foi um médico muito importante, diria que um dos primeiros que medicou ali na região. Desde que era pequeno ele via eu ler, estudar e dizia que eu ainda teria um bom futuro pela frente. Gostava quando nos domingos pela manha ele chegava lá em casa e ficava conversando até a hora de almoço. Nunca almoçava lá em casa ia era comer em casa. Sim, pois Elita cozinhava muito bem, gostava de comer carne de pato. Por isso ia pra casa. Quando vovó vinha passar uma temporada lá em casa, ele sempre vinha conversar com ela. Tinham quase a mesma idade. Aquele bom velho tinha uma língua afiada e quando se juntava com papai não sobrava ninguém em Serrinha do Canto que não passe na língua dos dois, três dependia do tamanho da turma. Quando fui morar em Natal não podia voltar em casa sem que ele fosse me visitar. Ficava muito feliz quando ia na casa dele, sempre saia uma broa com um copo de leite e uma boa conversa. Papai gostava muito dele, eu também pra mim era quase um avó. Faleceu velhinho com mais de 90 anos. Ele com certeza foi uma das pessoas que marcaram minha infância.

Vento da Noite

A noite

Quando caia a noite,
o céu peneirado,
todo estrelado,
o vento de açoite,

animava a noite,
elevando a poeira,
a luz ofuscar,

A ventania,
na noite vazia,
no vai lá
e vem cá,
canta a folha da carnaubeira,
a quenga de coco,
num tac-tac...
como um relógio,
ao tempo contar.

Nessa hora a noite chegada,
a rua parada,
não passa ninguém,
ninguém vai ou vem.

E o vento sorrateiro,
vento ligeiro,
a varrer a rodagem,
os terreiros.

E demora a passar,
mas parece um cargeiro,
a passar, passar, passar
e quando passa,
leva a noite,
só deixa a manhã limpa.

Chuva caiu

Fazia dias que não chovia. As plantas já estavam sedentas por água. O sol escaudante brilhava intensamente todos os dias. Fazia um calor infernal. Então hoje o fim da tarde ficou nublado, o céu sumiu, azul escuro, de nuvens. E assim escureceu. Achei que não iria chover, pois ventou um pouco, mas mesmo assim fazia muito calor. Então pingo a pingo foi caindo a chuva, foi engrossando e a orquestra se animou, não foi aquela chuva, foi algo tímido, mas veio desliguei até o ventilador. A natureza muitas vezes nos surpreende, nos traz coisas boas e a chuva pra mim é uma delas. Agora a noite segue escura, mas úmida ao sabor do som de gotas que despontam das folhas das árvores, dos fios. É a natureza da mãe terra atraindo para se a fonte de vida a água.

passa

O cão ladra na rua vazia,
cães respondem quebrando o silêncio.
O vento assanha as folhas da acacia.

A manhã passa!

Bom dia

Mal amanhece e toda a passarada já está numa cantarolada,
o cheiro da magnólia entra pelas frestas da janela e perfuma meu quarto.
Meu quarto parece está vivo, pois está tão quente,
deixo-o a meia luz só pra ver a chegada do sol.
Ronca ônibus no começo da rua e logo passa.
Canta forte o sanhaçu, bem do meu pé de acacia.
Canta o galo longe.
Ligo o rádio baixinho pra ouvir as notícias, e não desconectar da vida lá fora,
do som das aves.
Assim começo meu dia.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Músicas

Meu gosto por música não é lá apurado, nunca foi, aliás faz tempo que não ouço música. Na verdade quando morava em Serrinha, não tinha muitas opções, ou melhor, não tinha opções. Tinha uma ou duas fms e um monte de fitacassetes. Basicamente o que ouviámos era música brega, forró e sertanejo. Alguns cantores marcaram muito minha infância um dos que mais lembro e de Amado Batista, mais tarde vieram as duplas sertanejas e a minha predileta era Leandro e Leonardo. O grande sucesso "entre tapas e beijos" foi muito marcante pra mim, estourou no ano de 1988. Lembro porque na época vendia dindin no Porção, uma comunidade próximo a Serrinha do Canto, nessa época tinha nove anos. Era o climax das pessoas irem para São Paulo fazer a vida. Com a baixa escolaridade das pessoas pouco conseguiam, pois os empregos não ofereciam muito. Então era febre ir para longe e voltar no fim do ano com tênis de marca, camisas da hora, e um dois em um, e muitas fitas. A mulherada ficava maluca, com os patrícios vindo do sul. E o que tocava era a dupla Leandro e Leonardo. Eu pensava um dia irei pra lá e vou voltar pra namorar todas as meninas. E sonhava ouvindo as sertanejas. Nada disso aconteceu. Desgostei das músicas. Mais ainda quando ouço tenho boas recordações.

Música


Hoje quinta-feira houve apresentação da orquestra sinfônica da Unicamp no saguão ao lado da DAC, onde foi apresentado quatro músicas. A primeira foi uma música de uma peça de Shakespeare A megera domada, a segunda foi de um compositor alemão, a terceira uma opera de titulo O segredo de Julia e por fim uma composição de Gustav Holst. A orquestra sempre se apresenta as primeiras quintas do mês. Acho um espaço muito interessante para conhecermos mais sobre música, um momento pra contemplar a bela música. Bem que poderia ser mais frequente, mas já está bom. Assim mesmo.

Convolvulaceae

Ipomoea, Merremia, Jaquemontia, Evolvulus fizeram parte de minha infância,
mas como sendo diversas jitiranas.
Não é impressão não no sítio onde morei as estrelas caiam do céu pela manhã e se transformavam em plantas de estrelas. Transformavam-se em flores, azuís, como Ipomoea nil, Ipomoea parasitica, Evolvulus cordatus; rosas como Ipomoea bahiensis, Ipomoea incarnata, Ipomoea asarifolia; brancas como Merremea aegyptia, como Jaquemontia densiflora. Foi na infância que me apaixonei pelas flores. Fui um apaixonado pelas estrelas, fui amante das Ipomoea.
Lembro de ver verdadeiros céus de flores dia a dia. Quando no fim do inverno o céu tornavam-se bem mais azuis e os carrascos com mameleiros cobertos por Jitiranas tornavam-se rosados.
Aprendi a trabalhar, colhendo ramas de Ipomoea pra alimentar os porcos. Sim foram nas folhas de Ipomoea que descobri a forma do coração.
Foi as Convulvulaceae que me fizeram botânico.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O curral

Desde que sou gente, vejo como meu pai dar um jeito nas coisas lá de casa, nas portas, na cangaia, nas ancoretas em tudo. Meu pai sempre arrumava as coisas com um pedaço de arame e a troquesa velha. Nunca vi uma troquesa igual só papai tinha ali naquele povoado, as pessoas tinha alicates, mas troquesa so papai. Enfim não era diferente no curral. O curral de nossa casa ficava a uns 300 metros de casa, não dava sequer para ouvir o badalo do chocalho tinindo. Só as vezes quando a vaca paria e ficava lambendo a cria. Quando as vacas estavam prenhas, uma forma de saber se o bezerro nascera a noite bastava ouvir o soar intermitente do chocalho e já sabíamos que a vaca pariu. Então papai como era homem corajoso, saia na escuridão para conferi. Levava na mão uma lamparina, não deixava nos irmos juntos, ia sozinho. E quando chegava anunciava que era bezerro ou bezerra. Era muito bom saber que a vaca parira porque em pouco tempo teríamos leite a vontade pra tomar com café, pra comer com cherém de milho ou com cus-cus. Uma vaca era uma fartura. Papai sempre teve um gadinho pouco mais tinha. A primeira vaca que tenho na memória que papai possuiu foi careta que tinha esse nome por ter a cara branca e o corpo preto, parecia que fazia caretas. Foi a melhor vaca que papai teve. Era muito boa de leite e muito mansa. As vezes mamãe ia tirar leite e ela mesmo que arriava as pernas de careta. Nunca deu um coice. Já a filha de careta a novilha que mancava de uma perna era muito arisca corria atrás de quem era mole. Não gostava da novilha, lembro que papai vendeu e mataram ela lá no curral mesmo. Nunca gostei de ver matarem animal. Não olhava nunca. Papai também não gostava de ver. Depois papai vendeu careta não por açougue, vendeu a um comerciante, não queria saber que mataram careta. Papai gostava muito daquele animal. Bem outra vez papai comprou uma vaca velha, muito boa de leite, com chifres grandes. Veio o inverno e papai foi para São Paulo e colocou ela no sertão numa manga. A vaca já era velha e morreu no certão, parece que ela comera tinqui, uma planta venenosa, que mata o animal de barriga inchada. Uma vez papai comprou uma vaca preta de Levi lá em Pau dos Ferros essa vaca era muito boa de leite, e mança. Na seca de 1993 a situação ficou muito ruim papai vendeu todo o cercado e ficou só com essa vaca e a bezerra dela. A coitada passou muito mal comia rama árvores que ia buscar na cerra de Zé da Maniçoba. Comia rama de Anemopegna e de Copaifera não sei como não morreu. Papai comprava um saco de resídio era com que escapava, dava pouco leite isso mesmo tinha o gosto forte das plantas. Por não lembro mais do gado de papai. Lembro do curral. Aquele curral velho e simples. Com madeira velhas e tortas sustentando a cerca. Uma cocheira que caíra várias vezes, mas papai ajeitava sempre novamente. O curral era dividido em duas parte uma para o gado solteiro com uma cocheira divida em dois lugares um para colocar água e outro para por ração. E o lado maior para as vacas leiteiras. Tinha uma porteira velha no nascente e o poente era fechado sempre de cochete. divida por uma porteira que papai fazia.
O solo tinha barro vermelho, e era preciso quase sempre tirar o pau originado das fezes das vacas. Aquele pau quando estava seco cheirava muito. Gosto do cheiro de esterco de gado. Era alí que nos tirávamos parte de nossa alimentação de nosso sustento, quando era inverno sobrava leite, então lá ia eu vender leite na cidade, pra comprar alguma coisa pra casa. Eu era péssimo vendedor, tinha vergonha de gritar pra freguesia anunciando a mercaduria. Imagina que já cheguei a voltar com leite. Era muito ruim vendedor. Eu e minha vergonha. Dinheiro branco. O dinheiro do leite e dos ovos que vendíamos eram sempre da mamãe, pai nem via a cor. Foi do curral que tiramos dinheiro, foi de lá também que tiramos pau para adubar a terra de nosso sítio.
Naquela vida todos que ali moravam viviam da mesma lida. Era o curral uma forma de economia rural.

Contemplar

Só sei contemplar,
nunca aprendi a conversar,
minha vida sempre foi contemplação,
não sei descrever a natureza,
não sei descrever a beleza,
sou como a natureza contemplativa,
contemplo como a estrela que contempla,
como a lua que contempla,
e como a poesia que concretiza a completude.
e ensina a contemplar.

Contemplar

Só sei contemplar,
nunca aprendi a conversar,
minha vida sempre foi contemplação,
não sei descrever a natureza,
não sei descrever a beleza,
sou como a natureza contemplativa,
contemplo como a estrela que contempla,
como a lua que contempla,
e como a poesia que concretiza a completude.
e ensina a contemplar.

Contemplar

Só sei contemplar,
nunca aprendi a conversar,
minha vida sempre foi contemplação,
não sei descrever a natureza,
não sei descrever a beleza,
sou como a natureza contemplativa,
contemplo como a estrela que contempla,
como a lua que contempla,
e como a poesia que concretiza a completude.
e ensina a contemplar.

Parte

Parte de mim parte,
parte de mim fica,
parte de mim é dor,
parte de mim é amor,
parte de mim é felicidade,
parte de mim é tristeza,
parte de mim está completa,
parte de mim está vazia,
parte de mim é poesia.

Conheço-me por parte,
pois sou um ser incompleto,
a incompletude faz parte do ser,
a vida é uma eterna busca.

Só no amor me sinto completo.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A oração

Uma vez minha vó pra mim uma oração que decorará na televisão vendo a missa de Aparecida.
Enquanto ditava eu escrevia,
rezou aquela oração com tanta alegria,
encheu meu coração de paz,
enquanto ditava sentados nas cadeira de balanço de mamãe,
num vai e vem eu escrevia,
se materializavam suas palavras,
num documento
vó me presentiava com uma oração,
concluída,
pedi pra ela assinar,
assinei junto,
já fazem quatro anos redondos
e não decorei aquela oração
que vovó aprendera idosa,
as vezes sentado no corredor a ler,
via os lábios de vovó a orar,
balbuciava aquelas orações,
se benzia e ficava a contemplar a frente de minha casa,
a ver a vida vivida resumida a balanços,
e a uma conversa graciosa comigo,
ou a receber beijos meus de meu irmão Roberto.
Me sentia bem faze-la feliz,
amada.
Deixou-me uma oração,
ditada do coração.

Adaptação


Passei no vestibular, me mudei para Natal a capital do meu estado, Rio Grande do Norte, fui fazer universidade pública. Não tinha dinheiro para me manter, meus pais eram agricultores, então consegui uma vaga na moradia. Fui morar na moradia estudantil. O apartamento que me acolheu foi o 14. Onde fiz meus primeiros colegas que depois viraram grandes amigos. Eram cinco pessoas Anderson fazia Engenharia de Computação, Erivaldo Economia, Felipe Zootecnia, Gilsão Educação Física e Juan Engenharia Têxtil. Juan foi quem primeiro se tornou colega, depois Erivaldo, e por fim Anderson. Felipe e Gilsão eram muito na deles não ligava para um calouro. Foi uma época muito difícil de adaptação, reeducação. Tive que aprender a viver com pessoas que não conhecia, perdi totalmente minha privacidade. Passei uma semana dormindo muito mal. Não conseguia dormir com a luz acesa, dormir tarde. Quando morava em casa a hora mais tarde que dormia era as 22:30, mas tive que aprender a dormir as 23:30, às vezes a meia noite. Imagine morar seis pessoas num quarto de três metros de largura por 5 de comprimento. Com três beliches, 6 armários e um computador e sujeira. Nosso quarto era uma bagunça total, roupas sujas, calçados sujos. Pensei como vou resistir a isso. Banheiro comunitário, com um mictório enorme, mais parecia uma valeta erguida, com paredes incrustadas de sal cristalizados da urina, exalando um cheiro forte de mijo. As privadas tinham tampas pra sentar amarelas de sujo, as paredes pretas de porra. Descarga de porra onde uma multidão de estudantes descarregavam seus desejos. Era ali que todos os dejetos humanos, desejos eram descartados, numa sujeira enorme, como fazer o primeiro cocô naquela privada. Eis um drama o banheiro me provocava medo. Pra mim que vinha do mato, que fazia cocó no mato, sem papel higiênico ou descarga, as fezes muitas vezes no interior servem pra alimentar as galinhas. Em Serrinha eu cagava era no mato, as vezes debaixo do mufumbo. Bem foi um drama sentar naquele trono amarelo. Enfím sentei e fiz e fui me acostumando. O chão da moradia era coberto com uma cerâmica pequena vermelha. Em frente a cada quarto tinha um balde de lixo onde punhamos os lixos ou escarravamos, tinha uns animais que escarravam na tampa ou na parede. Naquele ambiente não se tinha o mínimo respeito ou moral. Alí tinha mais moral aquele que arrotasse ou peidasse mais alto. Tinham os rapazes muito educados que nunca faziam isso, mas não pertencia a esse clã. Tinha uma cozinha que ficava no final do corredor junto do banheiro que o mal cheiro de bosta muitas vezes misturava com o cheiro do café. Era na cozinha onde as vezes tirávamos um som. Som de Legião, Barão ou Capital. Bem no salão de entrada tinha uma televisão coletiva que a maioria decidia que seria assistido. Senão quando muito quem chegasse primeiro. Era nesse salão que ocorriam as reuniões que as vezes saia até briga de boca. Tinham duas portas uma de entrada principal e uma que dava para os fundos, malditos tinham uns folgados que faziam xixi ali mesmo por não terem coragem de ir até o banheiro. Certo tempo ali fedia a mijo. Bem nessa sala tinha uma saleta do computador que quase ninguém usava e uma sala do telefone. Bem pra moradia toda os 96 estudantes tinha dois telefones. O orelhão de fora que a tolerância de tempo eram 15 minutos e o telefone de dentro da cabine cuja tolerancia era 5 minutos. Este de detro podia-se ligar para dentro da cidade de graça e receber ligações de fora, pedia pra meus pais ligarem sempre para o orelhão, pois daria mais tempo para falar as notícias. Ou falar com a namorada que arranjei depois.
Mas enfim nos primeiros dois meses perdi 10 quilos voltei pra casa muito magro, tive uma herpes labial muito intensa, ficou feio minha boca com aquela chaga. Primeira vez que fui pra casa foi no dia da votação para prefeito, quando cheguei em casa chorei tanto, muito. Nem imagina quão grande foi minha alegria ao subir a serra do Martins, chegar em casa. Pai me dizia que podia desistir, mas eu só chorava, tinha medo, mas aos poucos estava aprendendo. Adaptando-me, crescendo. Tinha apenas 20 anos. Foi ai que minha segunda vida começou.

Chuva

 A Chuva é plena, Ela nos envolve, nos aconchega, Ela é tão plena que toda a natureza se recolhe para contempla-la As aves se calam pa...

Gogh

Gogh