domingo, 30 de junho de 2013

Motivo do existir

Vô José,  costumava repetir ao rememorar fatos que marcaram sua vida. Já idoso, cabelos brancos, sempre vestido casaco por causa do frio da serra. Lembro que falava, dos anos difíceis. Anos de seca. Vô José guardava essas coisas, sabe-lá por que. Contava que em 1915, morava nos Cajás, povoado de Barriguda, hoje Alexandria. Naquela época tinha apenas 13 anos de idade. Diversas vezes saia de lá para ir a Martins, lugar onde nunca faltava frutas, à cavalo para buscar frutas. Montava em sua casa e só se apeava em Martins. No dia seguinte com a carga de frutas montava nos burros e adormecia, acordava muitas vezes quando havia chegado em casa. Sei que naquela época ele já via o serrote da Veneza, os mufumbos e catingueiras do sertão, de certo via animais,
via gente que como ele dorme na eternidade. Sabe-se lá o que falava quem encontrava, o que comia. De certo os animais ficavam suados. Tantas coisas aconteciam nesta longa e monótona viagem. Sabe-se lá em que pensava tio José com uma carga de frutas que possivelmente só duraria uma semana, mas por ser de graça. Sabe-se lá se não tinha a boca com o mel seco da manga. Sem o mínimo de conforto, ele sofria, assim como sofriam os animais.
Meu avó faleceu já faz tanto tempo, os animais também, mas aquela paisagem continua viva, perdida em outros imaginários, com outros sentidos. Todas aquelas paisagens peculiares, sumiram como surgiram no dia em que vovô adormeceu para a eternidade. De certo vovô não se preocupava com o nome das plantas, dos bichos para ele o que importava era a barriga cheia,
o mel da manga e da jaca... Vovô não foi nenhum herói, nem lembrado por nenhuma façanha, mas não deixou de existir e foi por seu esforço que agora existo. Tá explicado a luta do nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Chuva

 A Chuva é plena, Ela nos envolve, nos aconchega, Ela é tão plena que toda a natureza se recolhe para contempla-la As aves se calam pa...

Gogh

Gogh